A RELIGIÃO TRADICIONAL E SEUS INIMIGOS

«(...) estarmos constrangidos e indignados com as pessoas que foram, como continuam agora sendo, responsáveis por colocarem sobre os nossos ombros esse fardo de argumentos, através da sua descrença naqueles contos que costumavam ouvir,quando eram bebés e crianças de peito, dos lábios das suas amas de leite e mães - histórias que lhes eram entoadas, por assim dizer, em canções de embalar, em tom de brincadeira ou seriamente; e as mesmas histórias mais tarde passaram a ouvir repetidas também em orações nos sacrifícios, e apreciaram espectáculos que as ilustravam, do tipo que os jovens adoram ver e ouvir quando interpretados nos sacrifícios; tendo constatado o próprio extremo zelo dos seus pais em nome de si mesmos e dos seus filhos em dirigir-se aos Deuses mediante orações e súplicas, como a Seres Cuja existência está mais assegurada do que todo o resto; e ao nascente e ao poente do sol, como ao nascer e ao pôr da lua contemplavam as prostrações e devoções de todos os gregos e bárbaros, sob todas as condições de adversidade e prosperidade, endereçadas a esses luminares, não como se não fossem Deuses, mas corno se fossem muito seguramente Deuses sem a menor sombra de dúvida - toda esta evidência é menosprezada por essas pessoas, e isso sem razão suficiente,corno alguém dotado de um grão de senso o afirmaria; e assim eles estão agora a forçar-nos a ingressar o nosso presente argumento.»

«As Leis», X, de Platão