domingo, julho 31, 2016

UM POVO ARCAICO, UMA REACÇÃO NATURAL

«Os Cáunios são, ao que julgo, autóctones [da Ásia Menor], embora eles próprios se considerem provenientes de Creta. Quanto à língua, adoptaram a dos Cários, ou os Cários a deles - é esta uma matéria em que não estou em condições de fazer um juízo seguro; por outro lado, têm usos muito diferentes dos dos outros homens, incluindo os Cários. Acham muito bem, por exemplo, que, quer se trate de homens, mulheres ou crianças, as pessoas se reúnam para beber em grupos, conforme a idade ou as relações de amizade. Depois de terem edificado templos a Deuses estrangeiros, mudaram de ideias e entenderam por bem adorar apenas os Deuses ancestrais; então todos os Cáunios adultos envergaram as armas e, a espadeirarem os ares, foram em procissão até aos confins de Calinda, proclamando que andavam a expulsar os Deuses estrangeiros. Tais são as suas regras de comportamento.»

In «Histórias» I, Heródoto, 172.1, século V a.e.c. 

A respeito dos Cáunios, ver o que aqui se diz a respeito da eventualidade de ser este Povo um antepassado directo dos Cónios da região do Algarve: http://gladio.blogspot.pt/2014/04/neo-hititas-em-portugal.html
O texto é denso e rico, e pejado de ligações e ideias, como é habitual em Ferreira do Amaral. Torna-se particularmente interessante que considere os Cónios como os descendentes do reino neo-hitita de Kau, que na Cária seriam conhecidos como os Kaunioi, e que terão deixado deixado vestígios pelo seu caminho mediterrânico em direcção ao Ocidente; o autor discorda assim da etimologia proposta por Koch segundo a qual o etnónimo «Cónio» estaria próximo do etnónimo britânico Cunetio - nome quase igual ao dos Cinetes, que eram provavelmente os mesmo que os Cónios, segundo ambos os autores, bem como a maioria dos investigadores - com raiz no céltico *Ku- ou *Kuno-, significando «cão» e/ou «herói».