terça-feira, fevereiro 04, 2014

SOBRE AS PRAXES, NOVAMENTE... E A REMATADA ATRASADICE DAS HIERARQUIAS

Volta-se a falar das praxes, a propósito da morte de caloiros na praia do Meco, um caso que, segundo se dizia na imprensa, originou-se de uma espécie de jogo em que os submissos sob praxe tinham de dar um passo atrás pelo mar adentro sempre que falhassem nas perguntas que se um dono, o dux, lhes fazia. Às tantas parece que se se perguntasse a um caloiro «olha lá, se o dux te mandar atirares-te abaixo de um poço, tu obedeces?», a resposta seria eventualmente afirmativa, ou então uma espécie de meio termo: «bem, isso assim também não, mas andar de costas para o mar bravo numa noite de Inverno, isso sim...»

Publico por isso uma parte do primeiro tópico que este blogue publicou, em 2003, e acrescento umas quantas coisitas: http://gladio.blogspot.pt/2003/10/respeito-das-praxes-h-salientar-um.html
A respeito das praxes, há a salientar um aspecto que não vi ainda ser comentado com algum desenvolvimento.
Falo da mentalidade geral que permite as praxes em larga escala: o ovino modo de ser, alimentado por uma grande parte da sociedade, até mesmo pelo veio dominante do sistema.
É o desejo de querer ser aceite por um colectivo, mas um colectivo já completamente desprovido dos conceitos transpessoais de Raça, de Estirpe, de Credo até.
Ora, se a sociedade alimenta este estado psicológico, não é de estranhar que tantos e tantos (a maioria, provavelmente) jovens caloiros aceitem tão passivamente tantos e tantos abusos perpetrados pelos praxistas. É que os meninos, coitadinhos, têm medo de não serem aceites «pelo colectivo». É esse o seu maior medo. E depois os tais «veteranos», por vezes auto-proclamados «defensores da tradição» abusam, como já se sabe. Escreveu Lorde Acton que o poder corrompe o e poder absoluto corrompe absolutamente. Ou, como diz o povo, a ocasião faz o ladrão. Essa historieta queque-pirosa de «manter a tradição» é quase sempre simples pretexto para exercer, impunemente, uma ridícula violência psicológica, pois que esta raça de adolescentes retardados o que aprecia é andar trajada à zorro, a cantar estopadas acompanhadas à viola, e possuir servos.
Recordo-me, entretanto, que, certa vez, ouvi dizer, na televisão, algo que me pareceu muito sintomático. Perante o caso, frequente e típico, de um grupo de jovens fumando marijuana, um certo sociólogo afirmava ficar mais preocupado com o jovem que, do meio do grupo, emergia na recusa em participar do vício, do que com os outros jovens, que aceitavam a participação em tão socializante actividade.
Dir-se-á talvez que isto é só um ouvir dizer, já em segunda mão, ainda por cima de um único caso, mas, quanto a mim, não há fumo sem fogo, e a mentalidade que atribuo ao referido sociólogo parece-me estar muito profundamente entranhada na actual sociedade urbana, nomeadamente nas universidades, e restantes ambientes juvenis, fortemente infiltrados por elementos de esquerda.
Quando os valores transpessoais são deitados abaixo, fica só o «ser humano». O ser humano na sua forma «pura», diriam os defensores da teoria do bom selvagem. Isto é, fica só a vontade de poder anárquica, sem limites nem vergonha.
É pois inútil criticar os praxistas abusadores: ninguém abdica de uma posição de poder só por causa de umas quantas repreensões morais.
O que é preciso é dizer aos caloiros que, para travar certas vergonhas, basta dizer «não», inequívoca e inflexivelmente, por uma questão de princípios.
É preciso fazê-los compreender que não precisam da «ajuda» posterior dos estudantes mais velhos que exercem as praxes, já que estes não podem ajudar assim tanto, carregados que estão de vícios e de imbecilidades várias.
Até porque vale mais uma coluna vertebral direita do que uma licenciatura.

Alguns dos que defendem as praxes dizem que se trata de uma questão de promover o respeito pelas hierarquias e assim.
Ora este é precisamente o maior problema da coisa - um «respeito» palerma por aquilo que bem traduzido como deve ser significa simplesmente submissão acéfala. A hierarquia só tem a sua razão de ser num contexto prático específico, puramente funcional, tendo por móbil a consecução de um determinado objectivo. A hierarquia será necessária num campo de batalha, decerto, mas a universidade não é a tropa. A universidade é para estudar a um nível superior e os professores só lá estão para ensinar a sua matéria e para averiguar se  o aluno já aprendeu o que tinha a aprender ou não. Ponto final. Não há absoluta e rigorosamente nenhuma necessidade de «duxes» e merdas quejandas. Enaltecer o papel heriarquizante das praxes é habituar as pessoas a um padrão de comportamento assente na subserviência e no privilégio completamente vazio e injustificado. Não admira que depois haja um líder de bancada de um partido de Esquerda - de Esquerda, da ala igualitária da Política... - a dar como adquirido que um deputado não pode «andar de Clio». 

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Cerca de 17 mil meninas correm risco de sofrer mutilação genital na Espanha"
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/33744/cerca+de+17+mil+meninas+correm+risco+de+sofrer+mutilacao+genital+na+espanha.shtml

4 de fevereiro de 2014 às 12:05:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

De facto, as universidade são para nelas se estudar, rituais de "iniciação" e hierarquias entre alunos paralelas e desnecessárias à função académica das universidades não têm razão nenhuma de ser.

4 de fevereiro de 2014 às 21:25:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"De facto, as universidade são para nelas se estudar, rituais de "iniciação" e hierarquias entre alunos paralelas e desnecessárias à função académica das universidades não têm razão nenhuma de ser."

segundo essa lógica, como cidadãos exerceríamos exclusivamente a cidadania e, sendo assim, nada de canticos de hinos nacionais, tradição e outras coisas mais "superfulas".

acho piada a individuos que se intitulam de nacionalistas alinharem na retorica anti praxe da extrema esquerda, sobretudo de meninos do bloco.

Praxe é o conjunto de tradições académicas e não apenas o ritual de introdução.... não confundam as coisas

então praxe é maltratar caloiros?e o resto?

aliás, nenhum tipo com 2 dedinhos de testa aceita ser enxovalhado, vi situações de alguns abusos no ritual de introdução, mas esse casos, pontuais eram maioritariamente pessoas com problemas de personalidade. A esmagadora maioria sabe brincar dentro dos limites.

A ideia é todos se divertirem e não humilhar ou reduzir o outro...

baptismo, queima das fitas, serenata, convívio social, o espirito de camaradagem, traje etc etc

a riqueza de tudo isto não se resume a uma minoria de imbecis que não sabem viver.

Eu fui estudante universitário e agradeço por tudo que vivi no contexto de praxe, foi com enorme prazer e orgulho que aderi expontaneamente.Não aceito que gente que não viveu esta realidade possa fazer uso da palavra para criticar, é imoral atacar-se algo sem conhecer/dominar o assunto, isso é apenas retoria antifa.



5 de fevereiro de 2014 às 03:05:00 WET  
Blogger Caturo said...

"De facto, as universidade são para nelas se estudar, rituais de "iniciação" e hierarquias entre alunos paralelas e desnecessárias à função académica das universidades não têm razão nenhuma de ser."

«segundo essa lógica, como cidadãos exerceríamos exclusivamente a cidadania e, sendo assim, nada de canticos de hinos nacionais,»

Pois se esses cânticos e hinos nacionais implicassem a submissão e o aviltamento das pessoas, sem dúvida alguma que seriam de prescindir.


«acho piada a individuos que se intitulam de nacionalistas alinharem na retorica anti praxe da extrema esquerda,»

E eu «acho piada» a indivíduos que presumem ser os detentores da ideologia a dizer que não se pode dizer isto ou aquilo porque a extrema-esquerda também diz. Ora as praxes foram proibidas no regime do Estado Novo. Isso chega para o bom fascistazinho estar autorizado a ser contra as praxes ou não?


«Praxe é o conjunto de tradições académicas e não apenas o ritual de introdução»

Pois sim, pois claro... pois então continuem com essas tradições académicas, a historieta das batinas e as estopadas do «apita o comboio» acompanhadas à viola, força nisso... Ninguém pôs isso em causa. Tal confusão entre uma coisa e outra é por isso desnecessária e tem ar de embrulho para obrigar todos a aceitar o pacote inteiro, como se não houvesse escolha. Mas há.


«então praxe é maltratar caloiros?e o resto?»

Qual resto? A tourada, a caça ou tanta pomba assassinada?


«aliás, nenhum tipo com 2 dedinhos de testa aceita ser enxovalhado,»

Não é questão de ter dois ou mais, ou menos, dedos de testa. É questão de haver todo um contexto vexatório que é aceite como dado adquirido por demasiados caloiros. A verdade é que as pessoas normalmente não sabem o que fazer quando se encontram num ambiente que não conhecem, não percebem por isso o que é que ali é grave ou não é. E se estão habituadas a achar que o mais importante é a integração - este é um dos principais problemas - então não se atrevem a dizer que o rei vai nu. Aliás, não é por acaso que a parábola do rei vai nu existe, é porque diz qualquer coisa de real. A pessoa vê fazer-se isto e aquilo e não sabe se o que vê é assim tão mau ou se naquele contexto não tem problema nenhum e acaba por ceder, ir na onda. E os «duxes», os «veteranos» e outros merdas todos contentes, pudera. Claro que, em última análise, os caloiros que se submetem assim são fracos, mas isso não desculpa os «fortes» que deles abusam. E por isso mesmo é que a crítica severa à praxe tem de ser divulgada, para que o adolescente ingénuo e marrão que chega à universidade esteja habituado a ouvir que pode perfeitamente dizer não sem que isso implique ser sovado ou «discriminado».
Além disso, não é correcto pôr a tónica no comportamento da vítima. O mal maior está em quem toma a iniciativa de mandar a vítima fazer isto e aquilo, e é aí que mais interessa intervir.

5 de fevereiro de 2014 às 19:58:00 WET  
Blogger Caturo said...

«Não aceito que gente que não viveu esta realidade possa fazer uso da palavra para criticar,»

Mais conversa da treta. Isso é presumir que quem critica não passou por essa etapa, o que constitui um princípio argumentativo completamente nulo. Eu, por exemplo, passei por aí, e vi como é ridícula a praxe. Vi outros a aderir mas não fiz o mesmo e incitei outros a também o não fazerem.


5 de fevereiro de 2014 às 20:02:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Mas qual "anti-praxe da extrema-esquerda"?? Mas esta gente é doente ou come merda às colheres?

É precisamente o contrário, a praxe é que é coisa de esquerda (socialistas) e extrema-esquerda.
Como o Caturo disse, quem proibiu essas palhaçadas foi o Estado Novo.

5 de fevereiro de 2014 às 22:43:00 WET  

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