segunda-feira, fevereiro 24, 2014

REGIFUGIUM - QUEDA DA MONARQUIA, ADVENTO DA REPÚBLICA

Dia 24 de Fevereiro é dia da memória do Regifugium. Tratava-se da comemoração da fundação da República e da fuga do rei, deposto. Isto porque, em 510 a.c. - ou 243 a.u.c. - Roma deixou de ser uma monarquia quando os aristocratas latinos expulsaram o rei etrusco e instauraram um regime no qual as autoridades máximas eram dois cônsules eleitos pelo povo.
O episódio em si é especialmente significativo na medida em que diz respeito, de certa maneira, a uma forma de conflito civil que é, na verdade, um confronto étnico entre Latinos, povo de raiz indo-europeia ou ariana, fundamento de Roma, e Etruscos, gente de origem possivelmente pré-indo-europeia, isto é, não ariana, e carácter mediterrânico.
Aparentemente, os Etruscos de Roma estavam perfeitamente integrados na Romanidade; mas por trás da aparência de harmonia multicultural e multiétnica, permanecia uma inimizade entre duas estirpes, inimizade essa que nunca foi sanada e que viria a culminar neste episódio: a monarquia latina tinha já sido tomada pelo poder etrusco, que era cada vez mais tirânico, com prejuízo da aristocracia latina, a qual resolveu pura e simplesmente acabar com os reis e instituír a República, medida que, como seria de esperar, reforçou o poder dos nobres latinos.
A aristocracia autenticamente romana, ao depôr um rei estrusco - Tarquínio o Soberbo - isto é, estrangeiro, mostrou que estava disposta a pôr em causa certas instituições quando a liberdade e soberania da sua gente se encontravam ameaçadas.
Pode até mesmo dizer-se que se observa aqui um conflito de índole etno-ideológico:
- de um lado, os mediterrânicos não arianos, com uma instituição na qual um homem tem um poder imenso sobre o seu povo;
- do outro, os arianos cuja mentalidade e forma de viver aponta para um sistema político em que o poder está, tendencialmente, distribuído por todo o Povo, sem que haja aí figuras políticas idolatradas ou muito exaltadas acima do resto da população.
Parece haver aí um paralelismo com a diferença entre Gregos e orientais (Egípcios, e, também, Persas orientalizados), na medida em que os primeiros se orgulhavam da sua liberdade, ao passo que os orientais viviam subjugados por autoridades opressivas (dito por Aristóteles); também na Ibéria parece haver um contraste deste tipo, dado que os povos mediterrânicos do sul e oriente da península tinham monarquias bem rígidas, ao passo que, entre as nações indo-europeias da mesma península (no centro, norte e ocidente - Galaicos, Lusitanos, Celtici, Vaqueus, Vetões, Ástures, Cântabros, Celtiberos), não se conhece nenhuma personagem monárquica e mesmo o carismático líder Viriato foi eleito pela sua eloquência e feitos, não por se lhe reconhecer à partida qualquer espécie de direito divino sobre os demais lusitanos.

Este é pois um dos traços do mais autêntico Ocidente - a rejeição de qualquer poder político dado como além do poder popular.

8 Comments:

Anonymous Frontal Norte said...

Atençao que existe a forte possibilidade de os Etruscos terem sido uma popuplação proto-Indo-Europeia. Além do mais, os Etruscos acabaram por se misturar à população de origem Latina com o passar dos tempos, sendo os Toscanos herdeiros em parte da sua cultura, o que não faz deles, como é óbvio, "menos Italianos".
O culto dos arúspices foi buscar a sua essência aos Etruscos, que, na verdade, tiveram uma civilização brilhante.
Os italianos não se envergonham do seu passado etrusco, e porque haveriam de o fazer?...
Por extensão, se formos aplicar este postulado, então rejeitaríamos o pensamento de Miguel de Unamuno (basco espanhol), a música de Maurice Ravel (de mãe basca e pai francês), ou a de Jean Sibelius (finlandês).Creio que premissas assim baseadas são irrelevantes e não acrescentam nada à causa.

25 de fevereiro de 2014 às 09:12:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Alguns dos regimes mais democráticos e livres do mundo são monarquias, as monarquias norte-europeias. E eu não sou monárquico.

25 de fevereiro de 2014 às 15:22:00 WET  
Blogger Caturo said...

Por serem democráticas, não por serem monarquias. A Islândia constitui um bom exemplo - nunca foi monarquia. E não deve esquecer-se que quando os Francos perguntaram aos conquistadores viquingues da Normandia quem era o seu rei, estes últimos responderam-lhes «Não temos rei, somos todos iguais.»

25 de fevereiro de 2014 às 18:04:00 WET  
Blogger Caturo said...

«Atençao que existe a forte possibilidade de os Etruscos terem sido uma popuplação proto-Indo-Europeia»

Existe essa possibilidade sim. Mas do que não restam dúvidas é do conteúdo orientalizante da sua cultura. Os Persas por exemplo são indo-europeus e todavia no embate com os Gregos acabam, comparativamente, por simbolizar (ainda que o não sejam) um oriente totalitário, inimigo da Liberdade ocidental, fortemente hierarquizante. Mutatis mutandis, passa-se o mesmo com os Etruscos. Não se trata de os demonizar ou sequer de prescindir do seu contributo cultural mas sim de perceber o contexto do contraste étnico entre ambas as partes. E isso é útil à Causa para se perceber a essência daquilo que motiva o combate.

25 de fevereiro de 2014 às 18:04:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Por serem democráticas, não por serem monarquias."

Sim, por serem democráticas, o que prova que não é preciso república para se atingir o máximo de liberdade. A monarquia inglesa foi em tempos o regime mais livre do mundo.

25 de fevereiro de 2014 às 19:28:00 WET  
Blogger Caturo said...

Embora a República seja, logo à partida em teoria, mais livre, dado que permite escolher todos os líderes, incluindo o próprio líder máximo.

25 de fevereiro de 2014 às 22:41:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"perguntaram aos conquistadores viquingues da Normandia quem era o seu rei"

Talvez fossem "iguais" entre eles, que eram apenas salteadores que não precisavam trazer o rei para suas invasões. Mas na Escandinávia em si havia reis. E depois na própria Normandia.

26 de fevereiro de 2014 às 00:52:00 WET  
Blogger Caturo said...

Também considerei a hipótese de se estarem a referir apenas ao seu grupo de viquingues, no qual não havia reis. Mas o que é facto é que a mais nova das pátrias viquingues, a Islândia, nem tem monarquia actualmente nem a teve na primeira comunidade nórdica aí estabelecida.

26 de fevereiro de 2014 às 18:33:00 WET  

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