terça-feira, março 26, 2013

ANIVERSÁRIO DA RTP - CINCO DÉCADAS, UM LUSTRO E UM ANO

Parece que há uma data de datas do aniversário da RTP, é a 7 de Março, é a 4 de Agosto, e agora o canal RTP1 está a transmitir uma gala a dizer que o aniversário é hoje, se calhar é repetido, mas não estou para ir averiguar. De qualquer modo, aqui fica a minha repetida homenagem à RTP, e os votos para que pelo menos continue a ser pública, isto é, propriedade minha e dos outros portugueses...

A verdade é que, de um modo geral, nunca deixou de ser a melhor televisão cá do burgo...
Sempre transmitiu muita merda, é certo, e programas excessivamente deprimentes que muito infernizaram os fins-de-semana, especialmente os domingos, do pessoal da minha idade e mais velho, que nos anos setenta e oitenta não tinha alternativas para consolar a mente no último dia de folga antes de mais uma semana de aulas, porrada e chatices diversas.
Não se poderiam esquecer as monumentais secas que aos domingos à tarde foram metidos pelos olhos adentro do pessoal por obra de Júlio Isidro e Luís Pereira de Sousa; ou os desagradabilíssimos desenhos animados de leste criativamente feitos à base de plasticinas em movimento, «maravilha» que o falecido Vasco Granja, ele próprio militante do PCP, espetava nos ecrãs, anunciando-as com aquele sorriso invariável de grande amigo das crianças que, segundo ele dizia, adoravam as cagadas que ele trazia de além da cortina de ferro.
Outra grande nódoa da RTP, esta mais grave, foi a popularização das telenovelas brasucas em Portugal. Numa época em que não havia alternativa televisiva para a esmagadora maioria da população portuguesa - só a gente das raias é que podia ver a televisão espanhola - a emissora nacional poderia ter habituado os paladares a coisas de melhor qualidade, ou pelo menos ao produto nacional, mesmo que fosse mais caro, uma vez que possuía evidentemente o monopólio dos horários nobres. Mas não - foi telenovela em cima de telenovela a partir das oito da noite ou assim, a hora em que toda a gente está em casa a jantar e a olhar para o que quer que esteja a passar pelo chamado pequeno ecrã. Depois, quando a SIC apareceu, já tinha feita metade da papa, visto que o seu contrato com a rede Globo brasuca lhe deu, logo à partida, a fatia dominante do horário nobre num país em que a população estava infelizmente viciada em anos de telenovela com sabor tropical.
Mas enfim, o saldo geral da RTP é francamente positivo. Inúmeros tesouros devem estar guardados nos seus arquivos de décadas e décadas. Dentro das suas possibilidades, limitadas pela pobreza do País, acabou por dar à população um pouco de tudo, e de muito do que de bom se fazia lá por fora, particularmente nos anos setenta, quando a produção estrangeira era sobretudo britânica. O genérico da Thames, por exemplo, faz decerto parte das memórias colectivas da população com mais de trinta anos (e até em Espanha, o que me surpreendeu, quando disso tomei conhecimento recentemente).
Sintam a magia de um  sabor de há trinta anos, cambada:
Merecem referência os nomes de séries, com carne e osso ou de desenhos feita, que acompanharam a infância e a maturidade de milhares, milhões por este País fora: Sandokan, Tarzan, O Sr. Feliz e o Sr. Contente, O Planeta dos Macacos, Espaço 1999, Blake's 7, Battlestar Gallactica, Benny Hill, os festivais da Eurovisão («Menina do Alto da Serra», a melhor de sempre, digo eu), os anúncios (o meu favorito de sempre, «WC Pato»), Buck Rogers No Século XXV, Heidi, Abelha Maia, Homem-Pássaro, Fantasma do Espaço, Esquadrão de Ataque Espacial, Eu Show Nico, EuroNico, Guilherme Tell («Crossbow»), Monty Python Flying Circus, The Goodies, O Tal Canal, As Fabulosas Aventuras do Barão de Munchausen (pouca gente se lembra disto em desenhos animados), Hermanias, Era Uma Vez o Espaço (com um estranhíssimo genérico cantado pelo Paulo de Carvalho, eu nunca percebia como é que uma série em que os heróis eram polícias espaciais podia dizer na sua música que «lá em cima já não há sentinelas»...), V - Batalha Final, Homem-Aranha, Doutor Faísca, Flash Gordon, «1,2,3», The Sweeney, e mais uma enxurrada de séries, e de filmes, portugueses e não só, e outras produções, alojadas para sempre algures em tranquilos e inofensivos cantos da memória, incluindo a mais magnífica das produções de todos os tempos, toda feita pela RTP, Duarte & Companhia, em cuja constelação de ricas personagens se incluía o mais glorioso trio televisivo de sempre, Átila, Rocha e Tino:

A RTP teve entretanto a óptima ideia de criar um canal dedicado a todas as suas memórias, a RTP Memória, que, todavia, ainda não passou novamente nem metade destas riquezas. A ver vamos...

Não tranquiliza nada, por outro lado, que se fale tanto da privatização de um canal da RTP. É outra coisa que também fica por ver...
 
 

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A RTP actual não vale nada, mas eu compreendo esse sentimento de nostalgia porque tambem o tenho.

duarte e companhia, foi mesmo muito bom.

acrescentaria

arca de noé, para mim, este sim o melhor programa da história da tv nacional.

Eram sabados mágicos.

o 1,2,3 de carlos cruz, o homem pode ser ou não pedófilo, não sei e sinseramente não dou credebilidade a este sistema de justiça que o condenou, mas que é um génio da comunicação, não tenho duvidas!

e claro, o velho e autentico herman josé, andes de soltar a "franga" e dar ares de puta rica pós 1999.

mas, o problema da RTP é este, têm do muito bom ao muito mau, como a nossa sociedade...

por exemplo, A catarina futil-furtado, Malato, Julio isidro, o jose rodrigues dos santos...deus me livre!

28 de março de 2013 às 00:24:00 WET  
Blogger João Nobre said...

Este comentário foi removido pelo autor.

14 de março de 2016 às 01:25:00 WET  

Enviar um comentário

<< Home