SOBRE O CRESCIMENTO DA EXTREMA-DIREITA FRANCESA NA INTERNET

O jornal francês Le Monde noticiou um estudo recente segundo o qual está a aumentar notoriamente a actividade da Extrema-Direita na Internet. Em França, os blogues deste (vasto e diverso) quadrante político passou de 5,2% da blogosfera para 12,5%.

Neste campo, os jornalistas incluíram diversas ideologias e posturas políticas:

- identitários etno-diferencialistas: promovem uma visão etno-diferencialista, em total oposição à mestiçagem e fortemente anti-islâmica; quer uma grande Europa das «pátrias carnais», que os jornalistas resumem como uma Europa-continente branco; o Bloc Identitaire é, nesta família política, o que dá mais que falar e o mais activo na Internet, pois que, para os seus militantes, a Internet é uma arma política de primeira importância e devem utilizá-la ao máximo;

- nacional-revolucionários: os NR definem-se como nacionalistas, anti-capitalistas (sem a luta de classes) e anti-comunistas, anti-americanos na medida em que rejeitam o sistema liberal cosmopolita e violentamente anti-sionistas; uma das suas organizações na Internet é a Egalité e Réconciliation, de Alain Soral; outro é o VoxNR, de Christian Bouchet, líder regional da Frente Nacional (FN);

- anti-islamocratas (classificados sob o título de «Choque de Civilizações»), que os jornalistas definem assim: «o racismo hierárquico cedeu terreno ao racismo cultural que insiste na teoria do choque de civilizações», o que por acaso não tem assim grande corno a ver, uma vez que os anti-islamistas do tipo Robert Spencer sempre se demarcaram de qualquer espécie de racismo, mas é verdade que tudo o que seja «discriminar» entre grupos de raiz (étnicos, religioso-civilizacionais) é de Direita; dizem ainda os jornalistas que estes anti-islamocratas «centram-se no Islão e na sua suposta incompatibilidade com os valores que se diz formarem a fundação do espaço europeu. Para os mais virulentos, uma proibição da expressão do Islão na Europa é vista como uma necessidade»;

- neo-conservadores: estão na fronteira entre a Direita e a Extrema-Direita; economicamente ultra-liberais, invocam frequentemente o nome do antigo presidente norte-americano Ronald Reagan e apoiam a ideia de que o Ocidente tem uma missão civilizadora; estão próximos dos sítios internéticos do tipo «choque de civilizações» e apoiam a linha dura da Direita israelita, que eles consideram como um posto avançado do Ocidente num Médio Oriente islamizado;

- tradicionalistas e fundamentalistas católicos: se o que os une é a hostilidade ao Concílio Vaticano II, a homofobia, a oposição ao aborto, à eutanásia e à República, alguns deles tendem entretanto para posições de virulento e obsessivo anti-judaísmo.

O autor do site inglês do qual retiro a maior parte deste texto ironiza sobre os critérios que levam os jornalistas a excluir da Extrema-Direita os fundamentalistas muçulmanos: «digamos, teoricamente, que um católico em França fizesse um blogue a opôr-se à homossexualidade e ao aborto e depois se convertesse ao Islão e continuasse a dizer exactamente as mesmas coisas, então o seu blogue deixaria de ser classificado como de "Extrema-Direita"».

Ora o que o inglês não percebe é que a noção de Extrema-Direita implica sempre um sentido de exaltação da diferença colectiva em relação ao Outro alógeno, mas alógeno de raiz, seja por motivo racial, étnico ou civilizacional-religioso. E o ocidental que se convertesse ao Islão deixaria de se demarcar do grande Outro que é o Islão, pelo contrário, passaria a dele fazer parte.

Agora, uma coisa é certa: mercê da confusão de valores colocada pela presença do Cristianismo na cultura europeia, há inevitavelmente confusões deste tipo. É por isso que alguma, demasiada, Extrema-Direita europeia continua a fazer suas algumas bandeiras que não são necessariamente europeias nem correspondem propriamente ao que se chamaria um «espírito de Direita», tais como a forte oposição à eutanásia, ao aborto e à educação sexual, que são, na verdade, bandeiras da Cristandade. É por se continuar demasiadas vezes a considerar que o Cristianismo constitui um dos pilares senão mesmo o grande pilar espiritual do Ocidente - cada vez menos se pensa assim, felizmente - que depois há mal-entendidos e lutas internas que não teriam razão de ser se fosse percebido que uma coisa é a Europa outra é o Cristianismo, como até alguns sacerdotes percebem. Não sou dado a metáforas matemáticas, mas aqui pode dizer-se que a equação Identidade-Europeia nunca bate certo quando algum x ou y é o Cristianismo.

Interessante é também a abordagem que o intelectual francês de Extrema-Direita e euro-deputado da FN Jean-Yves Le Gallou elabora a respeito do potencial da Internet como veículo de propaganda nacionalista, como que combatendo fogo com fogo na medida em que recorda o exemplo do intelectual de Extrema-Esquerda italiano Antonio Gramsci, segundo o qual o melhor meio de alcançar o Poder político era o controlo do meio cultural.

Basicamente (podeis ler, em Francês, o texto de Le Gallou aqui), Le Gallou diz:

- Ponto um: os instrumentos usados para influenciar a opinião pública nunca foram tão fortes;

- Ponto dois: o surgimento da Internet muda o jogo na medida em que é um meio para que a «maioria silenciosa» se mobilize contra as elites, é um meio para «contrariar o silêncio dos média e a demonização da Extrema-Direita», permite à «periferia vingar-se do centro». E, nisso, acerta em cheio. Aliás, é mesmo esse o motivo que tem levado certa cambada merdiática cá do burgo a querer exercer censura na Internet - a cambada merdiática do sistema não quer perder o seu monopólio do controlo da informação porque sabe que perdendo esse monopólio tornar-se-á mais difícil levar a cabo a sua aberrante missão de evangelização mundialista ou lavagem cerebral anti-racista sobre as populações. Esta elite cultural do sistema sabe que «longe da vista, longe do coração», pelo que quanto mais evitar que se falem de certas realidades relativas aos problemas da imigração em massa, menos as pessoas comuns terão tempo para pensar nelas, porque entretanto têm de se preocupar com o trabalho, com a crise, e depois com a tonelada de informação alienante que lhe espetam pelo televisor adentro, sobre os resultados do futebol, as mamas da Juliana Vanessa ou as coscuvilhices de uma prostituta qualquer e de um mafioso da bola. Pelo meio é capaz de se lembrar da sova que viu ser dada por dez negros a um cidadão, para lhe roubarem a carteira, mas como isso não aparece na televisão, e os grandes políticos nem sequer falam disso, enfim, é coisa de somenos importância, não é um «assunto sério», ou se calhar é mas mais vale não falar nisso que ainda lhe chamam racista e se calhar o patrão não gosta e da próxima vez que precisar de despedir alguém já sabe e olha agora come o hamburguer e olha o puto está a chamar e a mulher a gritar na cozinha e a 342ª temporada do CSI LasVegas/NovaIorque/Chicago/Londres/Trafaria/QueluzdeBaixo está a começar, chiu, vamos ver...

Resta aos Nacionalistas lançar o brado de alerta, agora e sempre: «Hannibal ad portas» - «Delenda Carthago!»

Ou, dito de modo mais acessível para quem tenha esteja mais americanizado - «não é a Economia, estúpido, é a Europa!»