segunda-feira, maio 19, 2008

«MUSEU AFRICANO EM LISBOA»

Noticiado agora mesmo na Antena 1: o vereador do BE em Lisboa José Sá Fernandes não arranja melhor maneira de gastar o dinheiro dos contribuintes do que fazer agora um «museu de África» na capital, em nome, segundo diz certo antropólogo, «do passado e mesmo da presença actual africana» que está por toda a parte duma urbe que há trinta anos era europeia a sério...

Enquanto isso, quilos e quilos de material arqueológico da Beira Baixa, que diz respeito à ancestralidade lusitana, repousa em armazém por não haver financiamento para o estudar e expor ao público.

18 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E faz ele muito bem!Pertence ao nosso passado,pois é.E o museu do Oriente foi um sucesso enorme.
Quando é que se lembram de fazer um museu do paganismo português?Porque é que ninguém se lembra disso,diz me lá tu?E porque é que o CM andou a oferecer de borla livrinhos com as histórias dos santos e não lança livros com os antigos deuses nacionais pré-cristãos??Porque é que será?E mais uma:estes assuntos só se podem falar nos estabelecimentos de ensino,e uma pessoa abre uma revista qualquer e lá vem as explicações dos Feng shuis,dos yn e yang ou dos tai shis.De quem é a culpa?Sabes-me dizer,Caturo,o porquê disto ser assim?

19 de maio de 2008 às 14:53:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Será que nos incutiram o não gostarmos da nossa cultura?Está bem que o contacto com África é antigo e tal,mas não vejo interesse das elites em defender o nosso património.

19 de maio de 2008 às 14:57:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Olha que os chineses não haviam de perder tempo com a nossa cultura,e nós fazêmo-lo...É triste.

19 de maio de 2008 às 14:59:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

http://www.yolandadance.com/danca_oriental.htm


Olha um exemplo dos exotismos orientais em Portugal.

19 de maio de 2008 às 15:02:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

O caso da minha sobrinha mais nova é nessa base.A miuda está a tentar convencer a mãe a po-la numa escola de dança Hip-Hop,porque é o que os putos da idade dela curtem.Isso e Kizomba e Reggaton.
Se aparecer algum miudo que queira,por exemplo,aprender a tocar piano ou canto,ou conhecer o folclore português,é logo ostracizado,passa a ser um "fatela",como se dizia no meu tempo.

19 de maio de 2008 às 15:11:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Já nem ao bom e velho Rock se vai ligando...

19 de maio de 2008 às 15:15:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Esse filho da puta do caralho que vá pra Africa já que gosta tanto dos pretos e leve a merda do museu com ele.

19 de maio de 2008 às 21:07:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Pois é, e a nossa cultura pré-cristã? Também merecia um museu.

20 de maio de 2008 às 10:04:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Eu gosto é de ouvir os gaiteiros de Miranda!

20 de maio de 2008 às 10:04:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Trinta anos? Eu nem ia para tão longe: lembro-me bem que quando vim para Lisboa estudar, há vinte e poucos, era incomum ver pretos na rua. Agora, quem passar pelo Rossio ao fim da tarde nem sabe se está no Peru, no Senegal, na Tunísia, ou na China. Só sabe, de ciência certa, que não está na em Portugal, e que de todo não está na Europa.
A culpa desta «injecção» de maralha estranha tem um rosto: chama-se Cavaco Silva. Foi este cavalo que, para melhor prosseguir a política do betão e do asfalto, pejou esta terra de pretos e brasileiros, escudando-se, já ele, na ideia de que «os portugueses já não gostam de trabalhar nestas coisas». Como se não fossem portugueses a trabalhar na lavoura, nas minas, nas pescas, na manutenção dos esgotos e num sem-número de outras actividades desprestigantes!
Mas, como sabemos, a trapaça cavaquenta a apelar ao nojinho pequeno-burguês por tudo o que é «braçal» colou: a deseducação da Nação, o apólogo da preguiça e da canalhice, a sua idealização nos filmes, nas novelas, e em tudo o que é lado, tinha de ter efeito. E a verdade é que o mesmo «argumento» foi usado por Guterres para trazer mais umas hordas de pretalhame para a Expo, por Barroso para os enfiar pelas obras do Euro 2004 adentro, e servirá - quem o duvida? - para que o aeroporto de Alcochete e o TGV sejam feitos por estranja do mesmo quilate. O caldo está feito, é só sentar e comer. Não sei quem disse que uma mentira repetida 1000 vezes se transforma em verdade - mas tinha toda a razão!

21 de maio de 2008 às 11:37:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Será que nos incutiram o não gostarmos da nossa cultura

Claro que sim. Pelo menos desde o séc. XVIII, num processo acicatado pela Geração de 70, a intelectualidade portuguesa quase nunca gostou de ser portuguesa. Pessoa bem dizia, naquele que deve ser o primeiro estudo sociológico que se fez em Portugal («O Português e a Pátria Portuguesa»), que o típico membro da classe dirigente é o português que não o é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com a verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é o que governa o país. E contudo, está totalmente divorciado do país que governa. Seria, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, é estúpido.
O intelectual-tipo, o intelectual orgânico da sociedade portuguesa pós-pombalina (admitindo que, ao menos culturalmente, há alguma continuidade desde então) é isto e nada mais: nutre um profundo desdém por Portugal, considera-se bom demais para esta terra de bugres e de idiotas, que no séc. XV foram pelo Mundo fora à procura de comida de tão miseráveis que eram. Desde o Almada Negreiros, que exigia uma Pátria que o merecesse, até ao energúmeno do António Pedro Vasconcelos, que dos fundios da sua mediocridade dizia aqui há uns tempos num jornal que «para ser razoavelmente bom nalguma coisa há que tentar ser o menos português possível» a elite deplora o país que lhe tocou. É, em verdade, um caso gravíssimo de gente espiritualmente pária, como o Caturo já muitas vezes, e bem, os classificou. Num país normal, tratando com esta sobranceria homens que são tão cidadãos como eles, eram enjeitados pela população com um lacónico «quem não gostas disto, emigra». Em Portugal, estão no Governo...

21 de maio de 2008 às 11:52:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Como se não fossem portugueses a trabalhar na lavoura, nas minas, nas pescas, na manutenção dos esgotos e num sem-número de outras actividades desprestigantes!

Exactamente, é o que costumo dizer. A actividade mais desprezada em Portugal sempre foi recolher o lixo nas ruas (era com isso que os pais assustavam os putos da minha geração, «olha que se não estudas vais acabar a varrer as ruas!...»), e todavia quase todos os trabalhadores da recolha do lixo que por aí se vêem são brancos portugueses.

21 de maio de 2008 às 12:11:00 WEST  
Blogger Caturo said...

O intelectual-tipo, o intelectual orgânico da sociedade portuguesa pós-pombalina (admitindo que, ao menos culturalmente, há alguma continuidade desde então) é isto e nada mais: nutre um profundo desdém por Portugal, considera-se bom demais para esta terra de bugres e de idiotas,

É o perfeito escravo do estrangeiro - despreza a sua própria gente e põe-se nas pontas dos pés para mostrar aos estrangeiros que não é como os outros portugueses, que é melhor, que até fala bem a língua do colonizador (seja o Francês, seja, mais recentemente, o Inglês), que sabe reconhecer a superioridade civilizacional do alienígena «iluminador», enfim. Talvez o fenómeno esteja ligado ao desprezo que em Portugal existe para com o Folclore, que, creio, não se verifica noutros países europeus, ou pelo menos não será tão ostensivo. Claro que, um pouco por toda a parte, há um certo desdém do cidadão urbano para com o camponês, mas em Portugal este tipo de arrogância parece especialmente acentuado.

Ora, pelo que tenho lido, isto nem sempre foi assim. Pelo contrário, na Idade Média, e também no tempo da Expansão, os Portugueses até eram conhecidos pela sua arrogância (embora o fossem menos do que os Castelhanos, pois quem é que consegue ser mais arrogante do que um castelhano?). Tenho andado a pensar sobre quando e porque é que isto mudou, sobre a origem da postura anti-nacional das elites, directamente ligada à falta de orgulho do «tuga» humildezinho e miserabilista, que acha sempre que o seu País é pior do que os outros todos e compraz-se em falar mal dele, como se dele não fizesse parte, como se essa atitude servisse para mostrar que não tem responsabilidades na desgraça a que a sua Pátria chegou.

21 de maio de 2008 às 12:42:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Tenho andado a pensar sobre quando e porque é que isto mudou

Também tenho pensado sobre isso, e acho que o Pessoa até avança uma boa pista. De facto, a partir de meados do séc. XVIII, e cada vez pior à medida que o Liberalismo e a República se implantaram, a vontade de importar tudo do estrangeiro, a estrutura económica do estrangeiro, as instituições do estrangeiro, os modelos culturais do estrangeiro, a educação do estrangeiro, porra, até as botas e os casacos do estrangeiro, tiveram este efeito de amesquinhamento de tudo o que é nosso. É evidente que nada há de necessariamente condenável na importação: mas pelo que me apercebo ela foi feita com a ideia declarada de que aquilo que éramos era fundamentalmente mau, sendo necessário mudar a alma portuguesa para se parecer à das «civilizações superiores». A consciência do atraso material e espiritual da Nação foi interpretada não como um problema de economia ou de gestão política mas como um sinal de que o espírito nacional é defeituoso, e é preciso estrangeirá-lo.
Ainda hoje pagamos a factura disso. E revertê-lo parece-me tão importante como complicado.

21 de maio de 2008 às 19:36:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Também houve liberalismo nos outros países europeus, e todavia não se instalou por lá esse nacional-masoquismo.

Terá, creio eu, de haver outra explicação. Talvez alguma forma de bastardia instituída, desde que o Marquês de Pombal atacou o espírito de raça e de orgulho no «sangue limpo» que a nobreza tinha...

22 de maio de 2008 às 02:44:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Mas eu não disse, Caturo, que o liberalismo é causa do desamor pela Pátria. Aliás, e como saberás ainda melhor do que eu, a ideologia liberal serviu para espoletar diversos movimentos nacionalistas um pouco por toda a Europa - Grécia, Itália, Alemanha, Hungria, Polónia, e cito os que me lembro de cor. Assim, e como se diz na Estatística, nacionalismo e liberalismo não são mutuamente excludentes.
Todavia, e era esse o meu ponto de vista, o Liberalismo português, continuando, como dizes e bem, a obra pombalina de desrespeito pela identidade nacional - lembras bem que foi o Sebastão José a acabar com a noção de Português de Lei -, teve um papel ainda maior nesse particular, sobretudo quando chegarmos à Geração de 70. Já o Garrett, que passa metade das obras que escreve a dizer basicamente que «Portugal é lindo, só é pena ter cá portugueses», bem como o Herculano, que queria ensinar moral ao país todo (basta ler «A Voz do Profeta» para lhe perceber a pretensão e o pretensiosismo...), não eram flor que se cheirasse. Mas quando veio o Antero, o Eça, e a trupe de engraçadinhos com razoável craveira intelectual e ampla ressonância nos jornais depois das Conferências, foi o golpe de misericórdia - de lá para cá foi sempre a descer, tirando o orgulho na modéstia e no conforto pobrezinho do lar durante o Estado Novo. Assim, o Pombal é certamente o marco inicial da exaltação do estrangeiro e da depreciação de tudo o que fosse nacional: mas, por assim dizer, essa xenofilia só é sistematizada quando os liberais portugueses, e sobretudo a Geração de 70, querem ensinar boas maneiras ao povoléu. O mal não é do liberalismo de uns, nem já agora do positivismo ou do socialismo utópico dos outros: aquela gente não tinha de mudar de ideias, as ideias deles é que tinham de mudar de gente, se é que me entendes.

23 de maio de 2008 às 17:22:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Sim, isso que dizes é verdade (com uma ressalva, atenção que o Herculano escreveu um épico memorável que tem até alguns contornos vagamente etnicistas, o «Eurico o Presbítero»), assim, com essa distinção entre as águas - liberalismo é uma coisa, cosmopolitismo é outra - já concordo. Mas agora - porque será que os representantes portugueses do Liberalismo deram início ao nacional-masoquismo? O busílis está nisso.

24 de maio de 2008 às 21:31:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

A única resposta, que eu acho ter alguma solidez, para a tua pergunta, é uma tese do Vasco Pulido Valente num livro que ele publicou no ano passado, o «Ir Prò Maneta». Segundo me lembro, ele dizia que a diferença central entre a resistência portuguesa e a de praticamente toda a restante Europa às invasões napoleónicas estava em que na maioria dos países (Estados germânicos, italianos, Espanha) a sublevação popular contra a presença estrangeira foi aproveitada pela burguesia e empregue ao serviço da causa liberal: ou seja, a rebelião em defesa da Pátria contra o opressor imperialista, o nacionalismo que levou os povos a tomar armas, foi acoplado à agenda liberal para lhe permitir chegar ao poder com rapidez.
Ora, em Portugal, a burguesia fracassou no enquadramento dessa rebelião. Quem conseguiu pôr-se na vanguarda do Povo em armas foi o Clero, dizendo-lhe que devia escorraçar os franceses porque eram o diabo na terra, queriam acabar com a sociedade tradicional, queriam proibi-los de ir à missa, e até tinham guilhotinado o Rei de França. Ou seja, a sublevação patriótico do campesinato português de então foi transformada numa cruzada contra o anticristo jacobino e liberal.
O Vasco Pulido Valente afirma isto para ilustrar que foi impossível o surgimento de um nacionalismo liberal entre nós: a luta contra a invasão levou a que se mesclassem, ao menos no discurso oficial e - pormenor importante - na cabeça dos nossos liberais os conceitos de Nacionalismo e de Reacção. Ser um patriota era ser daqueles que apoiaram os padres. E vai ser este anticlericalismo que os liberais levam para o poder que lhes vai tornar hostil qualquer relação com o nacionalismo: vão achar que o fundo nacional que temos está eivado de pensamento fradesco, está irremediavelmente contaminado por Roma, devendo o bom intelectual, em vez de compactuar com isso, educar as massas para a sã doutrina.
De notar que esta ideia não aparece com os Liberais: a «Descrição Cronológica Analítica» do Pombal já imputa todos os males nacionais à grande importância que os jesuítas tinham junto do poder régio. Quando os nossos liberais viram de que forma se fez a resistência ao Junot fizeram uma indução simples, algo como «bem dizia o Pombal, e lá está o povinho tuga a fazer a Guerra sob comando dos padres. A gente tem de ir lá educá-los».
Bem sei que isto é um bocado rebuscado, e talvez seja esticar um bocado a corda do que o VPV queria dizer. Mas parece-me, como disse a princípio, que esta tese pode ter alguma solidez.

26 de maio de 2008 às 20:06:00 WEST  

Enviar um comentário

<< Home