sábado, setembro 23, 2006

OCIDENTE CONTRA ORIENTE - HÁ DOIS MIL QUATROCENTOS E OITENTA E QUATRO ANOS

Neste dia de 480 antes da era comum ou cristã, os Gregos alcançaram uma vitória definitiva contra os Persas na batalha naval de Salamina. Este evento marcou o fim da empresa Persa de conquista do Ocidente. Seguiu-se uma idade de ouro na Grécia, onde floresceu a cultura que conhecemos como sendo a clássica.
Os Gregos, em grande desvantagem numérica, ousaram enfrentar o maior império da zona e triunfaram. A insubmissão aos ditames aparentemente invencíveis da natureza material parece ser, desde essa época, uma característica típica do Ocidente, como diz Louis Rougier em «O Conflito do Cristianismo Primitivo Com a Civilização Clássica».

Comemora-se pois uma vitória do Ocidente sobre o Oriente - do Ocidente amante da liberdade sobre o Oriente despótico.

Dizia Aristóteles que a Humanidade se dividia em três grandes grupos:
- no centro do mundo, os Gregos, homens livres e racionais;
- em cima e em baixo, a leste e a oeste, estavam os bárbaros.

Mas os bárbaros não eram todos iguais:
- aqueles que viviam a norte dos Gregos (os povos indo-europeus bárbaros, tais como os Trácios, os Celtas, etc.) eram livres e valorosos mas não pensavam racionalmente nem se organizavam politicamente;
- aqueles que se encontravam a sul e a oriente dos Gregos - ou seja, os Egípcios e os Asiáticos - eram tão capazes de criar cultura como os Gregos, mas não sentiam aspiração à liberdade, não tinham iniciativa, eram fracos, gregários e, por isso, viviam subjugados.

Isto é, aquilo que já há mais de dois milénios existia em comum entre os Gregos antigos e os outros povos da Europa, era precisamente a valorização da Liberdade.

Os Romanos divinizaram-Na com o nome de Libertas, personificada em figura feminina vestida de branco, acompanhada de um gato, animal que não se submete, e tendo numa das mãos um ceptro quebrado e na outra e uma lança encimada por um barrete frígio. Prestaram-Lhe especial culto e consideraram-Na associada ao próprio Júpiter, Deus Máximo, O qual A gerou com Juno que, por acaso, são Ambos adorados a 23 de Setembro).

César, na sua «De Bello Gallico», ou A Guerra das Gálias, reconhecia aos seus inimigos Celtas e Germanos um valor respeitável devido ao amor que tanto uns como outros nutriam pela liberdade. E, em coisas de História, a fonte escrita diz por vezes tanto ou mais a respeito de quem a escreve do que a respeito do objecto a respeito do qual é escrita. Ora, tal consideração da parte de César revela que este tinha em alta estima o ideal da Liberdade.
Tácito, por seu turno, na obra «A Germânia», compara os livres e bravos Germanos com os civilizados e subservientes Persas...

Voltando a César, parece ter sido ele quem afirmou que os Lusitanos eram um povo que não se governava nem deixava que o governassem...

Séculos e séculos depois, seriam os descendentes de Gregos, Romanos, Celtas e Germanos quem levaria ao resto do mundo o respeito pela sagrada Libertas, sem a qual não há Dignitas.

Quanto aos Persas, é verdade que eram, tal como os Helenos, de origem árica, mas também é verdade que, no momento em que chegaram à Hélade, levavam consigo uma pesada carga orientalista. Sabido é que quem conta a História é que impõe a sua versão dos factos e a História que conhecemos dessa época é-nos relatada pelos Gregos, inimigos mortais dos Persas. É pois necessário tomar o relato grego cum grano salis. Independentemente disso, o que fica evidente, pelo modo como os Gregos gabam a diferença entre a sua liberdade e o alegado despotismo da sociedade persa, é o apreço grego, digamos, ocidental pela Liberdade, uma das maiores heranças do Europeu de hoje.

E as heranças, por vezes, têem de ser defendidas pela força. Assim sejam os Ocidentais contemporâneos capazes de se portar com a firmeza e determinação dos seus ancestrais perante a ameaça opressora do Oriente que exige a submissão, representado, actualmente, pelo credo cujo nome, Islão, significa «rendição a Deus» e que pretende pôr toda a Humanidade de nádegas para o ar perante um Deus que se proclama único e que se revelou aos Árabes, povo alienígena de um deserto distante.

2 Comments:

Blogger Rodrigo N.P. said...

«A insubmissão aos ditames aparentemente invencíveis da natureza material parece ser, desde essa época, uma característica típica do Ocidente, como diz Louis Rougier em «O Conflito do Cristianismo Primitivo Com a Civilização Clássica».»

Oportuníssima evocação de um autor completamente fora de todo o pensamento politicamente correcto.

Esta asserção de Rougier,que aliás é retomada em outos textos seus, não é, no fundo, mais que a que foi realizada pelos movimentos fascistas com o seu mito mobilizador da superação do homem(europeu), de inspiração genuinamente nietzsciana( um dos seus autores de referência).A finalidade é sempre a superação, trata-se do conflito entre o «último homem» de Nietzsche, com a sua concepção passiva da existência e da liberdade( uma não-liberdade, de facto) e a do «superhomem» com a sua mundividência heróica e a finalidade regeneradora da liberdade.

Louis Rougier não é só o autor de uma das mais conseguidas traduções de «Celso contra os cristãos», as suas obras contra o cristianismo foram as mais influentes na direita francesa e as que mais contribuiram para afastar certos sectores direitistas do catolicismo.

Absolutamente imperdível é igualmente a sua análise do socialismo e do capitalismo, Rougier foi um dos mais notórios filósofos políticos na defesa do liberalismo económico puro e duro. De tal modo foi pujante a sua defesa do capitalismo que conseguiu entrar na sociedade do «Mont-Pèlerin», famosa pela sua associação a libertários da igualha de Hayek.

E porque é que isto é feito notável, perguntarão alguns...porque Rougier foi um «colaboracionista», até ao fim não deixou de fazer a defesa de Vichy, foi sempre um homem de carácter, porque por esta altura, e esta defesa prolongou-se para lá da guerra, naturalmente, já todos os ratos tinham abandonado o porão e outros perdido a memória, esquecendo que também apoiaram Vichy.

Imprescindíveis os seus textos sobre os crimes de guerra dos aliados, que chegaram a ser motivo de um memorável artigo na «Diorama»( se não estou em erro).

Igualmente de salientar, em Rougier, é a obra «La mystique démocratique, ses origines, ses illusions», um fresco sobre a democracia e a superior importância das elites, que foi reeditado há alguns anos. Sendo verdade que posteriormente, já mais libertário que outra coisa qualquer, se tornou, em nome do mesmo pragmatismo que dizia ser necessário à análise dos sistemas políticos, e que elogiava nos espíritos europeus, mais conivente com a democracia, é memorável o seu diagnóstico de não existir nesse regime, como em qualquer outro, uma superioridade inerente, pois os melhores sistemas decorrem sempre das circunstâncias e das condições existentes, internas e externas.Enfim,também não será por acaso que muitos dos membros do «Mont-Pèlerin» foram sempre hostis à democracia.

Uma lembrança que merece palmas efusivas a um nome, mais um, que ficou esquecido ou a quem as casas editoriais do pós-guerra cortaram mais de metade do trabalho.

24 de setembro de 2006 às 02:44:00 WEST  
Blogger Rodrigo N.P. said...

Já me esquecia, igualmente imprecindível é a leitura da sua crítica à ideia de «direito natural»! Caramba, este era mesmo dos bons! :)

24 de setembro de 2006 às 02:52:00 WEST  

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