sábado, março 18, 2006

ANTIGOS SONS DA CAIXA MÁGICA





Uma amiga fez-me descobrir este nostálgico site, que será decerto tranquilamente apreciado pelo pessoal com mais de vinte e cinco anos que guarde na memória algumas boas impressões do que viu e ouviu na televisão há mais de duas décadas.

Trata-se de uma recolha de músicas de programas televisivos que trazem de volta à mente vários ambientes de uma ou mais épocas que têm hoje um sabor de Idade de Ouro, ou pelo menos de Prata, quando Portugal era mais simples, mais inocente e mais ingénuo, ou pelo menos assim parece, hoje, a esta distância. Parece-me importante ter sempre presente a consciência de que a própria mente tem tendência para dourar um bocado as recordações de infância, como se noutros tempos a vida fosse perfeita.

E porquê? Porque hoje olha-se para trás e vê-se que esse tempo está para sempre salvaguardado de ser destruído precisamente porque já passou e não pode ser manchado. Mas, nessa altura, nesse tempo, o indivíduo, pelo contrário, nunca tinha certeza alguma de que esse momento de prazer não seria estragado.

Ou seja, agora sabemos que «não aconteceu nada de mal»; mas, na altura, não sabíamos que não aconteceria, nesse momento, nada de mal.

Enfim, o referido site dá uma oportunidade rara de reviver um pouco as emoções de quando se era menos exigente, menos céptico e se saboreava prazeres mais ingénuos e também mais intensos (com o aumento da idade, tudo vai ficando mais pálido e ténue). Wickie o Viking, Tom Sawyer, Jacky o Urso de Tallac, Heidi, Abelha Maia, o angustiante Marco (série mais profundamente violenta do que os desenhos animados de pancadaria), Ruy o Pequeno Cid (desenho animado baseado num cavaleiro medieval castelhano, Don Rodrigo Diaz de Bívar), D’Artacão e os Três Moscãoteiros, Conan o rapaz do futuro, Willy Fog, a Pantera Cor de Rosa, o heróico e educativo «Era uma Vez o Espaço», e um dos meus favoritos, Homem-Aranha; os Cinco «tineiges» bifes, e ainda Sandokan (uma das minhas primeiras referências épicas), Zé Gato (já se faziam coisas razoáveis na televisão portuguesa quando os meios disponíveis eram muito mais escassos do que actualmente), o excelente Duarte & Companhia (que exibiu algumas das melhores cenas de humor que já vi na vida, destacando-se aí os impagáveis Átila, Rocha e Constantino), a sempre interessante «Quinta Dimensão» («No Limiar da Realidade», ou «Twilight Zone»).

Também lá está o asqueroso «Fame», mas enfim, só vê quem quer.

E faltam ainda o magnífico Homem-Pássaro (glória solar para crianças), o Trio Galáctico, os Quatro Fantásticos, os Jovens Heróis de Shaolin, o brilhante Dr. Faísca, a fascinante série de Flash Gordon (obra-prima da ficção científica com laivos de barroco), o estimulante Barão de Munchausen, o muito mal feito Capitão América (qualitativamente, talvez o pior desenho animado de sempre), o quase tão mal feito Hulk (ainda assim, há qualquer coisa de mágico naquilo), o magistralmente bélico Bombardeiro X (Esquadrão de Ataque Espacial), a Galáctica, o Rei Artur, o Robin dos Bosques (anos noventa), o inteligente Espaço 1999 (que dá agora na SIC Radical) e, last but not least antes pelo contrário, Blake’s Seven, esplêndida série britânica de ficção científica que coloca um rebelde político e seis marginais a escapar continuamente a um império interplanetário opressivo o qual criara a impressão, na população, de que tudo estava bem (sim, é a ideia do Matrix, mas foi feito nos anos setenta…), tudo num ambiente marcado por um bem construída mistura de futurismo apocalíptico e titânico com medievalismo inglês («lordes» com indumentárias de cabedal preto a disparar armas laser, há um episódio especial de Natal de Black Adder que tem uma cena destas). Aparentemente, só eu é que me lembro desta série, em Portugal (foi transmitida em 1980-81 pela RTP2 no sábado à noite, enquanto no canal 1 dava a brasileira «Dª Xepa»... já nessa altura se envenenava o Povo com a telenovela brasuca...) , mas enfim, pode ser que alguém na RTP resolva um dia pô-la no canal Memória.


Cena de Blake's Seven