OS IRMÃOS GRIMM
Recomendo que se dê uma cuidadosa vista de olhos a este filme, estreado em Portugal na semana passada. Baseia-se num clássico da literatura fantástica ocidental, os contos dos irmãos Grimm, e tem como ambiente temático a floresta europeia com os seus mistérios e resquícios de magia, que teimariam em persistir em épocas mais recentes, cada vez menos receptivas a superstições e ao maravilhoso tradicional dos contos folclóricos.
Aliás, há no filme essa confrontação entre as crenças antigas, especialmente alimentadas no seio dos aldeãos alemães, e a nova mentalidade racionalista anti-mágica que, na película, é representada e veiculada pelas invasoras tropas napoleónicas, pejadas de «franciús» arrogantes (sem ofensa para os Franceses). O realizador, Terry Gilliam (o meu favorito, por acaso) já antes tinha colocado em cena este duelo cultural, no filme «The Baron of Munchausen», que em Portugal recebeu o título de «A Fantástica Aventura do Barão» (um dos meus favoritos, por acaso).
Apreciei particularmente umas quantas passagens em que se faz alusão ao poder mágico do bosque que foi combatido pelos cristãos mas que, de algum modo, acabou por sobreviver. Alusão que sabe a pouco, mas que, de qualquer modo, fica registada. Pode dever-se a uma intenção do realizador de «piscar o olho» a um público específico, aquele que faz aumentar as vendas de livros sobre o oculto e as vias alternativas ao Cristianismo - independentemente disso, é inspiradora e auxilia a disseminação da valorização da mais autêntica espiritualidade europeia.
Página explicativa (brasileira) que contextualiza o tema da obra:
CRISTIANE MADANÊLO DE OLIVEIRA. "IRMÃOS GRIMM: JACOB E WILHELM (ENTRE 1785 E 1863)" [online]
Disponível na internet via WWW URL:
http://www.graudez.com.br/litinf/au...grimm/grimm.htm
Capturado em 5/10/2005
Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleónicas, os Irmãos Grimm recolhem, directamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Então, uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo.
Tinham dois objectivos básicos com a pesquisa:
- levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua alemã;
- fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito da raça.
O primeiro manuscrito da compilação de histórias data de 1810 e apresentava 51 narrativas. Na sua primeira edição, a compilação foi intitulada "Histórias das crianças e do lar" e já contava com mais algumas histórias. A quinquagésima edição, última com os autores vivos, já totalizava 181 narrativas. Algumas dessas histórias são de fundo europeu comum, tendo sido também recolhidas por Perrault, no séc. XVII, em França (o que remete à existência de uma fonte comum).
Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os Irmãos Grimm que as dedicaram às crianças devido à sua temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, estes dois universos: o popular e o infantil. O título escolhido para a colectânea "Histórias das crianças e do lar" já evidencia uma proposta educativa. Alguns temas considerados mais cruéis ou imorais foram descartados do manuscrito de 1810.
O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário. Assim, a violência (presente nos Contos de Perrault) cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas histórias, o que predomina, sempre, é a esperança e a confiança na vida.
Ex: Confrontando os finais da história do "Capuchinho Vermelho": em Perrault (que termina com o lobo devorando a menina e a avó) e em Grimm (onde o caçador chega, abre a barriga do lobo, deixando que as duas vivam vivas e felizes; enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador ali colocou...).
Vários críticos afirmam serem as histórias dos Grimm incentivadoras do conformismo e da submissão. Ainda assim, a permanência dessas narrativas, oriundas da tradição oral, justificam o destaque conferido a estes autores alemães.
Nos Contos de Grimm não há, propriamente, contos-de-fadas. Dividem-se em:
- contos-de-encantamento ( histórias que apresentam metamorfoses, ou transformações, por encantamento, a maioria);
- contos maravilhosos (histórias que apresentam o elemento mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas);
- fábulas (histórias vividas por animais, algumas);
- lendas (histórias ligadas ao princípio dos tempos, ou da comunidade, e onde o mágico aparece como "milagre" ligado a uma divindade);
- contos de enigma ou mistério (histórias que têm como eixo um enigma a ser desvendado);
- contos jocosos (humorísticos ou divertidos).
A característica básica de tais narrativas (qualquer que seja sua espécie literária) é a de apresentar uma problemática simples: um só núcleo dramático.
A repetição, ou reiteração, juntamente com a simplicidade de problemática e da estrutura narrativa, é outro elemento constitutivo básico dos contos populares. Da mesma forma que a elementaridade, ou simplicidade da mente popular, ou da infantil, repudia as estruturas narrativas complexas (devido à dificuldade de compreensão imediata que elas apresentam), também se desinteressam da matéria literária que apresente excessiva variedade, ou novidades que alterem continuamente as estruturas básicas já conhecidas.
Essa reiteração dos mesmos esquemas, na literatura popular-infantil, vai, pois, ao encontro da exigência interior dos seus leitores: apreciarem a repetição das "situações conhecidas", porque isso permite o prazer de conhecer, por antecipação, tudo o que vai acontecer na história. E mais, dominando, a priori, a marcha dos acontecimentos, o leitor sente-se seguro interiormente - é como se pudesse dominar a vida que flui e lhe escapa ...
Repare-se no primeiro parágrafo - a cultura nacional como reacção à ocupação estrangeira; a cultura nacional como baluarte da resistência do espírito da Estirpe.
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