segunda-feira, fevereiro 07, 2005

UM CARNAVAL QUE, EM VEZ DE ALEGRE, É DEPRIMENTE

Estava eu a dar uma ligeira vista de olhos ao programa de Herman José, e dei de caras com um desfile de representantes do carnaval em Portugal. Um dos grupos representantes vinha ilustrar o famoso carnaval de Loulé e era composto de mulatas vestidas à brasileira, a dançar em brasileiro, acompanhadas musicalmente por negros e mestiços brasileiros a tocar e a cantar em brasileiro.

Então aquela merda é que o carnaval de Loulé?

A perda da identidade começa já antes da invasão maciça de gente vinda de África e do Brasil - começa na mentalidade tuga de ausência de raizes e venda da própria alma ao estrangeiro. Se não fossem tão pimbas, ao menos copiavam o carnaval de Veneza, que está imbuído do bom gosto europeu, sendo mais parecido com o tradicional carnaval português do que o brasileiro... mas não. Os filhos dos castros enevoados foram em grande parte domesticados e envergonhados de si próprios e, posteriormente, persuadidos a pensar que os brasileiros mestiços é que têm «o» ritmo e «a» alegria. Um dos resultados, porventura um dos de menor gravidade, é o abastardamento das tradições carnavalescas nacionais, ricas e bizarras. Digo «de menor gravidade» quando falo da situação em si, mas a coisa é da maior gravidade como sinal, símbolo, anúncio, do que está a suceder no País.

Trata-se de um processo que só poderia suceder num povo separado das suas raizes e massificado: aliás, aquilo a que se chama «kitsch» começou mesmo assim - no século XVII, os povos europeus sofreram um processo de desenraização, na medida em que grandes camadas da população rural foram forçadas a largar o campo para irem viver em ambientes urbanos. Em abandonando o mundo rural, abandonaram também a sua cultura; fixaram-se nas cidades, mas não tinham ainda nenhuma referência cultural urbana. Os líderes do sistema perceberam então que tão grande massa humana tinha de ser controlada e disciplinada, criando para isso uma cultura nova, baseada em estereótipos, simplificada ao máximo, assente nas emoções mais básicas e, se possível, sempre com uma lição de moral (isto no que respeita aos teatros e à literatura de cordel, típica da época). É a essa nova cultura que se chama «kitsch».

E, digo eu, o extremo do kitsch, é o pimba. E é a gente pimba, já sem referências tradicionais, que adere ao que os líderes do sistema lhe põem diante das ventas: brasileirices em barda, africanices aos magotes e coisas afins.