ÁFRICA DO SUL...

Portugueses queixam-se de que perdem negócios na África do Sul devido exclusivamente à violência endémica que aí se faz sentir, como se pode ver numa reportagem da TVI exibida ontem à noite. Segundo é aí dito, perto de quinhentos portugueses foram assassinados nesse país desde o fim do apartheid, o que se enquadra perfeitamente num contexto em que há cerca de vinte mil homicídios por ano. Recentemente, sucedeu que, numa semana de motim urbano generalizado, trezentas e vinte pessoas foram assassinadas e mais de cem comerciantes portugueses perderam as suas lojas. O mais absurdo é ouvir e ver as expressões de choque destes portugueses como se uma merda daquelas não fosse absolutamente previsível como o cagar. Muitos destes portugueses estavam em Moçambique e, com o fim do Império Português, cuidaram que a então fabulosa África do Sul era o refúgio eterno. Os portugueses de Moçambique criam genuinamente que a África do Sul era o «el dorado» por excelência, um modelo superior a todos os outros, ao nível da Inglaterra e da Alemanha ou até melhor. Acreditaram todos na possibilidade de convivência multirracial em África...

Só mesmo um «RACIIIISTA!» podia «adivinhar» que isto ia acontecer... é que até um «RACIIIISTA!» de nível intelectual baixo o podia fazer... quaisquer analistas académicos das melhores universidades teceriam inúmeras considerações sobre condições e condicionamentos e conjunturas e estruturas, mas um «grunho RACIIIISTA!» topava logo o que se iria passar... Um indivíduo que conheço e viveu muito tempo em Moçambique, voltou lá recentemente, tentando aí construir um negócio. Era um tipo de classe média, inteligente, relativamente viajado, com alguma sofisticação, e acreditou mesmo que ia singrar. Claro que, não tendo «padrinhos» no Estado, ficou com o negócio completamente a arder e tudo correu mal, o caos era total, nada se conseguia fazer. Perdeu, evidentemente, o dinheiro que lá investiu, teve aliás muita sorte em conseguir voltar e refazer por cá a vida. O que será que explica isto, a completa lavagem cerebral me(r)diática actual ou a educação salazarista para convencer o pessoal de que os africanos adoravam os Portugueses e aquilo podia tudo correr muitabem?, ou ambas?...