terça-feira, abril 06, 2021

«DOS REIS AOS PROFETAS»

«Dos Reis aos Profetas», série norte-americana com actores neo-zelandeses e britânicos exibida na semana passada a horas mortas pela SIC, merece bem que se lhe dê valente vista de olhos, pelo sucesso com que recria um cenário histórico de há três mil anos com notória e confortável verosimilhança - confortável dentro dos limites ideológicos da época, actual, bem entendido...
É sempre agradável ouvir o sotaque britânico num cenário ricamente construído a recriar gentes e vistas da Idade do Ferro, ou do Bronze, na televisão portuguesa não é dos luxos mais frequentes hoje em dia - era comum nos anos setenta, nos oitenta nem tanto, actualmente é uma raridade, pois que o vulgarizante som da voz ianque está por toda a parte dos principais canais televisivos. Também é bom poder olhar para o ecrã sabendo-se que se verão quase exclusivamente faces caucasóides, europeias na sua maioria, médio-orientais também, mas, no caso, mui justificadamente, pois que se trata aqui de uma versão novelesca de uma gesta bíblica, nomeadamente a de Saul, Samuel e David, entre outros. Porem um negro a representar um hitita é que se torna sobejamente ridículo, grosseiro atropelamento da lógica histórica pela elevada improbabilidade de um africano sub-saariano viver no seio de um Povo indo-europeu de há três mil anos... ainda que o «metessem» entre egípcios ou etíopes, enfim, agora entre Hititas, localizados bem a norte daí, na área norte do Médio Oriente, só mesmo por obscenas exigências de quotas raciais, sem que isso indigne os que usualmente guincham acusações de «raciiismo!!!» diante daquilo a que chamam «apropriação cultural»...
Ponto positivo da série é, entre outros, a forma sóbria como mais de uma vez exibe a intolerância religiosa abraâmica, monoteísta, contra as religiões dos Povos vizinhos. 
Bom, em suma, para quem goste de mergulhos num passado multi-milenar servido por boas interpretações, adereços e argumentos convincentes.