quarta-feira, setembro 12, 2018

PARLAMENTO EUROPEU VOTA POR PROCESSO DISCIPLINAR CONTRA A HUNGRIA

O Parlamento Europeu (PE) recomendou esta Mércores ao Conselho Europeu a instauração de um procedimento disciplinar à Hungria por violação grave dos valores europeus por parte do governo de Viktor Órban, nomeadamente em matérias como a das migrações e o Estado de direito.
No mesmo dia, o Parlamento Europeu aprovou a proposta sobre a reforma dos direitos de autor no mercado único digital. E o presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, fez o seu último discurso do estado da União. Em 2019 serão renovados quatro altos cargos na UE: presidente da Comissão, do Conselho, do Parlamento e do Banco Central Europeu.
Esta é a primeira vez na história da União Europeia que o PE elabora e aprova um relatório sobre a activação do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, que prevê, como sanção máxima, a suspensão dos direitos de voto a um Estado membro.
O relatório da comissão parlamentar das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos do PE, que considerava existir um risco manifesto de violação grave, pela Hungria, dos valores europeus, recebeu 448 votos a favor, 197 contra e 48 abstenções durante a votação realizada no PE, em Estrasburgo, França.
Agora cabe ao Conselho Europeu, por maioria qualificada, decidir se suspende ou não alguns dos direitos de Budapeste, como por exemplo o direito de voto.
Na apresentação do relatório, a sua autora, Judith Sargentini, afirmara na Martes: "Perseguiu imigrantes, refugiados e minorias como os ciganos. Há indivíduos no governo que beneficiam dos fundos europeus e dos contribuintes. Infelizmente nada melhorou desde que o relatório foi votado em Junho na Comissão Europeia."
E há mais, muito mais: a alteração da Constituição, a interferência no poder judicial, a perseguição aos media, à autonomia académica, a restrição de liberdades como a religiosa ou de associação fazem parte da lista de temas que tiraram a Hungria do clube dos países de plena democracia e da vigência do Estado de direito.
Impassível, como sempre, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, a quem o ex-eurodeputado Daniel Cohn-Bendit classificou no passado como "o Hugo Chávez da Europa", fez a sua defesa. "Não vai ser contra um governo, mas contra um país". E que país: uma das "nações cristãs milenares, que lutou contra o maior exército do mundo, o soviético".
Sobre o relatório, Órban, que é da família política Partido Popular Europeu (PPE), afirmou que foi feito "com dois pesos e duas medidas", "sem dados concretos" e com "alegações enganosas".
Concluiu que o problema é que a "Hungria vai ser condenada por não querer ser um país de imigração", mas o país "não vai sucumbir a essa chantagem" e que no fim vai "voltar a dotar a política europeia de mais democracia".
"O que se passa na Hungria não é violador de um princípio da União Europeia, é violador de algo universal, que é a base dos direitos humanos", disse Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda.
Para a deputada do PS Ana Gomes este é essencialmente um teste ao PPE, a maior família política do PE. Destaca os alemães da CSU, cuja demarcação da Extrema-Direita do AfD é "cosmética", responsabiliza Angela Merkel pela sua "indulgência" e a lógica dos grandes interesses, "o que explica que um dos conselheiros de Orbán seja o deputado Mário David, que foi homem de mão de Durão Barroso".
"Nunca teríamos chegado a este estado se a Comissão tivesse agido há muito tempo, quando o Rui Tavares [ex-eurodeputado do BE] foi o relator do primeiro relatório sobre a Hungria", diz Ana Gomes. "Se nessa altura tivesse agido certamente não teríamos assistido aos desafios do grupo de Visegrado relativamente ao que foi acordado em Conselho sobre os refugiados, a todo um conjunto de acções violadoras tendentes a perverter os princípios e valores europeus até chegar a este ponto em que Orbán é o baluarte, ao aliar-se a Matteo Salvini e com Vladimir Putin para destruir a solidariedade na UE, uma coligação xenófoba e racista", comenta Ana Gomes.
O social-democrata Paulo Rangel faz questão de separar as águas. "O PSD sempre votou desde 2011 todas as resoluções que condenam a Hungria, ao lado normalmente das delegações holandesa, sueca, finlandesa, e nos últimos anos, das delegações romena e polaca."
Apesar de tudo, o eurodeputado do PSD lamentou "que não haja o mesmo procedimento para dois governos socialistas: a Eslováquia, onde jornalistas foram assassinados por investigarem corrupção ligada ao governo, e a Roménia".
O deputado comunista João Pimenta Lopes vai bastante mais longe, ao entender que a degradação das condições de vida não é um exclusivo da Hungria. E que "há uma profunda hipocrisia por parte da UE e por parte daqueles que apresentam este tipo de posicionamentos, porque são eles próprios veículos promotores da degradação das condições de direitos sociais, laborais e outros direitos fundamentais. Não podemos comungar com acções de branqueamento da UE em torno destes grandes valores", afirma.
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Fonte: https://www.dn.pt/mundo/interior/parlamento-europeu-vota-a-favor-de-inedito-processo-disciplinar-a-hungria-9834795.html

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Diz Ana Gomes que "Nunca teríamos chegado a este estado se a Comissão tivesse agido há muito tempo,", leia-se, nunca teríamos chegado a uma tal manifestação de poderio nacionalista em governos europeus se a elite reinante já tivesse atropelado a Democracia mais cedo. 
Eu digo: nunca teríamos chegado a este estado em que um país soberano europeu é limitado na sua liberdade por uma votação no Parlamento Europeu se os nacionalistas europeus tivessem começado a virar-se para a Democracia mais cedo, agora teriam provavelmente muito mais poder noeste mesmo parlamento europeu do que têm e uma votação destas se calhar não se fazia.