«THOR - RAGNAROK»

No terceiro filme de Thor da Marvel, «Ragnarok», a personagem «Hela» está gira. As armas de raios também têm bom aspecto. São das poucas coisas boas que se podem dizer da película. Quem fez a coisa resolveu levar a historieta para a brincadeira, nunca ou raramente chegando a ter piada. Quando não se consegue manter o registo no campo do épico, já se sabe, descambar para a palhaçada é a solução mais fácil. A propósito de tradição pagã nórdica, isto assim de repente traz à memória uma passagem do texto tradicional nórdico «Havamal», os ditos de Odin, uma parte da Edda poética: «É miserável e pobre de espírito aquele que troça de todas as coisas.»... Segurar a narrativa ao nível da epopeia heróica com pouca ou nenhuma pompa ridícula é hoje um luxo quase só ao alcance de quem fez o «Senhor dos Anéis», o «Hobbit» e pouquíssimo mais.

Pior em «Thor - Ragnarok» é a politiquice correcta do costume, que aqui se agrava: não bastava fazerem de Heimdal, o Guardião da Bifrost, um negro - ironicamente, esta Divindade tem na tradição nórdica o epíteto de «Deus Branco»... - neste último filme também arranjam uma valquíria preta; e quando mostram a população de Asgard a monte, aquilo parece um instantâneo de maralha multi-racial no metro de alguma grande cidade multirracial. Uma boa merda, para não variar.

A lamechice infantilizante do apelo à amizade entre irmãos e, pior ainda, a passagem tipo série «Fama» a dizer «tu és capaz, acredita em ti» completa o leque da desgraça nesta produção ianque, lá diz o povo que não há uma sem duas nem há duas sem três.

No fim há contudo vestígio de algo relativamente positivo - o vislumbre de uma remota consciência pagã com a presença do espírito de Odin na sua terra a inspirar a conduta do herói; e, por estranho que pareça, a mensagem «Asgard não é um local, é o seu Povo», que no contexto pode querer servir para valorizar um agregado humano miscigenado, acaba por, no seu enunciado, servir também para despertar uma consciência étnica por cima do conceito meramente territorial de país...

Enfim, não aconselho a que se dê dinheiro para ver isto no cinema.