quarta-feira, março 01, 2017

COMEÇA O MÊS DE MARTE...


Estátua de guerreiro romano encontrado nas ruínas das termas romanas dos cássios em Lisboa. Reconstituição de J.Espinho segundo a descrição que se conservou e publicado por Augusto Vieira da Silva na sua obra " Epigrafia de Olisipo: (subsídios para a história da Lisboa romana)" em 1944

É uma coincidência no mínimo interessante que esta figura marcial não tenha a mão direita, eventualmente por acidente sofrido pela estátua, algures no tempo ao longo dos milénios... a imagem traz à mente que na Lusitânia se oferecia a mão direita dos guerreiros vencidos aos Deuses, talvez aos da Guerra, tal como sucedia na Cítia, outra nação indo-europeia, com laços que a ligam aos Celtas arcaicos. Os Citas ofereciam o braço direito dos guerreiros inimigos em sacrifício ao Deus da Guerra.
Ora na Irlanda uma das principais Divindades é Nuadu do/a Braço/Mão de Prata - Nuadu Airgedlamh - porque o dito perdeu um/a braço/mão em combate recebendo em contrapartida um/a braço/mão de prata. E, na Celtibéria, um monumento no qual aparece o teónimo «Neitin» encontram-se imagens de várias mãos direitas. Neitin é eventualmente o mesmo que Neton, Deus da Guerra celtibérico, Cujo nome tem toda a parecença com o de Net ou Neit, Deus da Guerra Irlandês. Em Conímbriga encontrou-se uma inscrição dedicada a um Netus e em Cáceres, que fazia parte da Lusitânia, outra inscrição é dedicada a um Netoni. Neton é um Deus luminoso, segundo o testemunho de Macróbio, que diz que os Accitani veneravam com a maior devoção um «Marte», portanto, um Deus da Guerra, ao Qual chamavam Neton, que parecia ornada de raios, talvez porque brilhasse. Na figura acima a ideia de brilho está presente no tronco, atrás do escudo.

Marte, o Marte propriamente dito, latino, é tido na tradição romana como o Pai dos Romanos, Mars Pater, devido ao mito de que o fundador de Roma, Rómulo, seria filho de Marte e da vestal Reia Sílvia. Na Roma arcaica, Marte formava uma tríade com Júpiter e Quirino, tendo porventura devido a isso um flâmine maior. Os flâmines eram os sacerdotes dedicados ao culto de um Deus em particular. Existiam quinze, três ditos «maiores», enquanto os restantes eram considerados «menores». O de Marte, flâmine martialis, é um dos três maiores, segundo em importância relativamente ao de Júpiter.


Marte, protector de Roma, é não apenas Deus da Guerra mas também da Agricultura. Nalguns locais é ainda um defensor contra as doenças, como sucede na Gália, onde era sobretudo de carácter salutífero o culto de Mars Lenus, porventura um sincretismo com alguma Divindade local céltica. Actualmente, o rico e bem organizado património turístico na Alemanha permite uma visita ao templo de Mars Lenus em Marberg («Monte de Marte» em Alemão) por dois euros, com direito a permanecer no templo por muito tempo, deixar moedas de oferenda, até mesmo queimar incenso. Há até possibilidade de encomendar bolos no café local, com uma semana de antecedência, como eventualmente se pode ler aqui, em Alemão: http://incipesapereaude.wordpress.com/




Nesta data celebravam-se jogos circenses em Roma, ritos militares em honra de Mars Victor ou Marte Vitorioso; celebrava-se também a Matronália, festa em honra de Juno Lucina, que é Juno na Sua faceta de auxílio às grávidas; renova-se ainda o fogo sagrado da cidade, o de Vesta, Deusa do Fogo Sagrado do Lar e da Pátria.