ENTERRO DO ENTRUDO
«Poderemos dizer que o modelo padrão nacional desta peculiar representação que marca em apoteose, em muitas zonas do país, o fim do "Entrudo", configura entre nós uma pantomina, em que o dito (personificado num boneco) é, na terça-feira de Carnaval ao anoitecer (ou mais raramente à meia-noite), e após um cortejo burlesco (donde emana ou não a proclamação pública de um "testamento"), "julgado" e finalmente queimado ou, menos frequentemente, afogado ou enterrado.
De facto, "julgamentos" e "testamentos" eram como dissemos, nesta altura do ano, pretexto para grandes sátiras sociais dando assim corpo a um complexo de representações populares que, no seu conjunto, abrangiam todo o território nacional cumpriam imortantes funções de controlo social. Na verdade, embora contestadas sistematicamente pelas autoridades civis e religiosas, e conjunturalmente pelos respectivos visados, as mesmas contribuíram de forma decisiva (e aqui e ali ainda contribuem) para a perpetuação de uma moral local e tradicional desempenhando, assim, um papel determinante na coesão comunitária.
Algumas vezes, as particularidades da teatralização levam à existência de mais que um boneco (representando o "pai", a "mãe", a "esposa" ou os numerosos "filhos do entrudo"), ou a um processo de execução que poderá incluir até o desencadear de um tiroteio sobre o desgraçado, independentemente ou não do mesmo vir a ser afogado ou queimado. Tiros simulam, igualmente, as bombas que recheiam o seu interior e que explodem quando o mesmo é queimado, provocando fortes aplausos da assistência e um recrudescer dos prantos e lamentações fúnebres dos "familiares".
Variantes de pormenor apresentam, nalguns casos, representações do "entrudo" por um homem ou rapaz mascarados, como no Sabugal ou em Murça.
Outros ainda, revelam situações híbridas em que a paródia do cortejo/"julgamento" se realiza com personagens reais, sendo depois estes convenientemente substituídos, quando da teatralização da execução, por um boneco de palha.
Era o que acontecia, por exemplo, em certas zonas do Alto Alentejo como Estremoz ou Alagoas-Portalegre. Na Vidigueira, por seu lado, a representação simbólica recorria apenas a um simples molho de vides, coberto por um pano preto num rudimentar simulacro de cadáver.
Vimos já que "enterrar" corresponde, na tradição popular, à atitude simbólica do encerrar de um período, do fechar algo que fica para trás, do rejeitar de um tempo velho que, outro novo (leia-se renovado), vem substituir.
Mas a acção pode não corresponder à inumação mas à cremação, uma outra forma de anulação niilista (o fogo destrói e purifica, faz igualmente regressar ao pó e permite assim uma catarse completa), ou ainda a um afogamento, encarado na mentalidade tradicional como uma morte/renascimento que, aliás, ritos de iniciação como o baptizado tão bem exemplificam.
(...)
Em França e na Alemanha existe igualmente conhecimento da queima de uma efígie antropomórfica personificando o "entrudo" no fim do período carnavalesco.
(...)»
«A Face do Caos», Aurélio Lopes, Garrido Editores, págs. 169, 170/1.
De facto, "julgamentos" e "testamentos" eram como dissemos, nesta altura do ano, pretexto para grandes sátiras sociais dando assim corpo a um complexo de representações populares que, no seu conjunto, abrangiam todo o território nacional cumpriam imortantes funções de controlo social. Na verdade, embora contestadas sistematicamente pelas autoridades civis e religiosas, e conjunturalmente pelos respectivos visados, as mesmas contribuíram de forma decisiva (e aqui e ali ainda contribuem) para a perpetuação de uma moral local e tradicional desempenhando, assim, um papel determinante na coesão comunitária.
Algumas vezes, as particularidades da teatralização levam à existência de mais que um boneco (representando o "pai", a "mãe", a "esposa" ou os numerosos "filhos do entrudo"), ou a um processo de execução que poderá incluir até o desencadear de um tiroteio sobre o desgraçado, independentemente ou não do mesmo vir a ser afogado ou queimado. Tiros simulam, igualmente, as bombas que recheiam o seu interior e que explodem quando o mesmo é queimado, provocando fortes aplausos da assistência e um recrudescer dos prantos e lamentações fúnebres dos "familiares".
Variantes de pormenor apresentam, nalguns casos, representações do "entrudo" por um homem ou rapaz mascarados, como no Sabugal ou em Murça.
Outros ainda, revelam situações híbridas em que a paródia do cortejo/"julgamento" se realiza com personagens reais, sendo depois estes convenientemente substituídos, quando da teatralização da execução, por um boneco de palha.
Era o que acontecia, por exemplo, em certas zonas do Alto Alentejo como Estremoz ou Alagoas-Portalegre. Na Vidigueira, por seu lado, a representação simbólica recorria apenas a um simples molho de vides, coberto por um pano preto num rudimentar simulacro de cadáver.
Vimos já que "enterrar" corresponde, na tradição popular, à atitude simbólica do encerrar de um período, do fechar algo que fica para trás, do rejeitar de um tempo velho que, outro novo (leia-se renovado), vem substituir.
Mas a acção pode não corresponder à inumação mas à cremação, uma outra forma de anulação niilista (o fogo destrói e purifica, faz igualmente regressar ao pó e permite assim uma catarse completa), ou ainda a um afogamento, encarado na mentalidade tradicional como uma morte/renascimento que, aliás, ritos de iniciação como o baptizado tão bem exemplificam.
(...)
Em França e na Alemanha existe igualmente conhecimento da queima de uma efígie antropomórfica personificando o "entrudo" no fim do período carnavalesco.
(...)»
«A Face do Caos», Aurélio Lopes, Garrido Editores, págs. 169, 170/1.
6 Comments:
Bom texto,Caturo.Espero que o teu Carnaval tenha sido bom.
Espero que o teu também, cara Treasureseeker.
Então mas que é isto.uma gótica e gira!ó caturo tens que mapresentar.
O CUTURO TA FLERTANDO COM O CARA...
LOL
ñ tá nada.eu conheço a gaja e o caturro ñ a está flertando coisa nenhuma,seu tótó.
O brasucagay é burro todos os dias, não intervala, ehehheheh...
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