segunda-feira, maio 01, 2006

O PRIMEIRO DE MAIO



Hoje, Primeiro de Maio, Dia da Vinda dos Poderes do Crescimento - da Bona Dea, ou Boa Deusa, também conhecida como Maia, que nomeia o corrente mês, e também como Fauna... Deusa da Fertilidade e da Purificação da Terra, e também da Medicina (está por isso associada à serpente, símbolo das curas) e da Profecia...
Entre os Celtas, celebrava-se, e volta-se a celebrar, o Beltaine, isto é, «O Fogo de Bel», Festa Ígnea em honra de Belenos na Gália, Deus Luminoso e também Medicinal, tal como Maia, e tal como Apolo. Trata-se de uma festividade de purificação, em que o gado é levado a passar entre fogos purificadores; posteriormente, as próprias pessoas saltam por cima das fogueiras, o que faz lembrar que essa mesma prática existe também em Portugal no Solstício de Verão. Na Irlanda, esta era a data da chegada à ilha dos Tuatha de Danann, os Deuses, Forças da Luz, vindas do Alto e/ou do Noroeste, regressando à terra donde os seus ancestrais Filhos de Nemed tinham sido expulsos pelos invasores Fomor, raça monstruosa que dominou a Irlanda. A princípio, estabeleceu-se uma coexistência entre os de Dana e os Fomor - mas, em breve, as incompatibilidades vieram ao de cima, a guerra estalou e o Povo de Dana e, assim, a raça inimiga Fomor acabou por ser expulsa do território.

A propósito deste combate, é interessante o facto de também na tradição folclórica portuguesa haver uma noção de luta entre forças naturais no Primeiro de Maio:

Na nossa tradição agrária antiga, é uma luta tenaz entre a morte e a vida. E esta, para ser vitoriosa, necessita de um esforço ritual e cíclico do homem, vital para ajudar as forças da natureza a renascer.
No primeiro de Maio, consagrado como o dia das “Maias”, colocam-se flores de giesta nas janelas e nas portas, nas carroças dos bois, nas fontes e nos largos. Enfeitam-se bonecos de palha, que são colocados nas janelas ou mesmo nos telhados, como era hábito em Portimão. Em Alte, os maios são deixados às esquinas das ruas, às vezes suportando versos a propósito.
Na aldeia de Querença, uma pessoa vestida de branco, vinha cedo pela manhã, como é tradição, bater às portas dos vizinhos, desafiando-os a sair de casa, com vários subterfúgios: “Venha daí home, que o seu burro anda no trigo!
Era necessário sair de casa cedo, para evitar que o “Maio” entrasse. Seguiam depois em romaria, uns atrás dos outros, atacando o Maio, com figos enfarinhados e aguardente de medronho, portas adentro de cada casa por onde passavam.
O Maio, elemento nocivo era, assim, esconjurado para que a natureza surgisse fértil e limpa das maleitas do Inverno. As consagrações florais, as Maias (bonecos, raparigas ou rapazes) e o repasto tradicional rural composto de figos e medronho assumiam, no Algarve, as fórmulas de defesa da Primavera que se consolidava. Tradição agrária antiga, que misturou variadas práticas, remonta às festividades romanas da “Florália”, dedicadas à deusa Flora e a cultos medievais germânicos de Santa Valpurgis, conforme investigação do etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira.


Nas Maias portuguesas, acendem-se as Fogueiras de Maio, e os Postes de Maio são levantados. As mulheres usam coroas de flores (tradição que pode vir do culto à Deusa Flora, também celebrada por estes dias) e todos dançam ao redor das chamas. No Alentejo, dá-se-lhe também o nome de «Festa das Cruzes» (como em Barcelos), que esteve proibida durante muitos anos, sendo restaurada por iniciativa popular depois do 25 de Abril - não conta com a intervenção das autoridades eclesiásticas...

Havia, há uns anos, o site Raízes de Portugal que, infelizmente, parece desactivado. No entanto, saquei, quando o bicho funcionava, este trecho, que me parece particularmente valioso:
«Assegurámos através do rito a ininterrupção do ciclo da natureza, participando desse modo na acção criadora dos deuses. Pela tradição, preservamos usos e costumes que chegaram até aos nossos dias e fazem parte do nosso folclore. Festejemos, pois, as Maias, fazendo-as ressurgir com o mesmo colorido, alegria e pujança como nos tempos antigos!»



A ida para a Irlanda dos Tuatha de Danann, Deuses vindos do extremo norte