UMA NOTÍCIA AGRADÁVEL E INOFENSIVA, PRÓPRIA PARA O NATAL
Arqueologia - Descoberta em local de futuro empreendimento em Lisboa
Aqui há (pré) História
Sérgio Lemos
Arqueólogos, geólogos e antropólogos trabalham juntos para compreender o passado da capital
Vestígios do que era Lisboa há mais de seis mil anos e durante as várias ocupações subsequentes estão a ser descobertos numa acção de exploração arqueológica de grande dimensão, que está a mudar o que se sabia sobre a evolução da cidade. Os trabalhos decorrem na Encosta de Santana, ao Martim Moniz, onde nascerá um empreendimento urbanístico, depois de terminada a intervenção arqueológica.
De pedaços de instrumentos e fogueiras da Idade da Pedra (do Neolítico), a estruturas de habitações da ocupação islâmica, passando por peças de artesanato da Idade do Bronze e os restos do que foi um dia uma necrópole romana, o potencial arqueológico da zona é enorme e está a ser explorado de forma exaustiva. São cerca de dois mil metros quadrados, dos quais já foram escavados 850. “Na zona do casco antigo da cidade, não temos uma área com esta dimensão nem com esta intensidade de ocupação em período pré-histórico, nem com níveis tão antigos preservados como estes”, considera Vasco Santos, arqueólogo do Museu da Cidade.
O passar dos séculos é visível nas várias camadas de terreno que se foram formando graças à própria dinâmica da encosta. Exemplo disso são os coluviões – desprendimentos de terras ao longo da encosta – que, quando mais fortes, arrastavam tudo o que estivesse à frente, deixando cobertas estruturas e objectos de uma determinada época. Os vestígios mais antigos ali encontrados datam do final do quinto milénio a.C., em pleno período Neolítico.
“Além de vestígios de acampamentos, como conchas e lareiras, temos muitos restos de talhe de sílex resultantes da sua preparação para a produção de artefactos”, assinala Vasco Santos, arqueólogo do Museu da Cidade. “Mas temos comparativamente muito poucos artefactos, o que nos leva a supor que aqui podia ser uma zona especializada no talhe do sílex, sendo depois as peças levadas para outros sítios”, explica entusiasmado.
Relativamente à Idade do Bronze (1800 - 800, a.C.), foram encontradas evidências mais conclusivas sobre a fixação efectiva de pessoas na zona. “Já aparecem mais estruturas, que podem indiciar uma ocupação com um carácter permanente. A nível no Neolítico não podemos afirmar que eles estivessem constantemente aqui. Podia ser uma coisa mais sazonal”, explica.
ESPAÇO DEVE SER VALORIZADO
Para Vasco Santos, os achados que têm sido feitos na Encosta de Santana vêm alterar o que sabíamos da cidade de Lisboa. “Em relação à Idade do Bronze e ao Neolítico, é exagerado falar em ‘revolução’, mas isto vem acrescentar muita informação à pouca que tínhamos e aos dados dispersos que íamos tendo pontualmente nesta zona da cidade.”
Nos trabalhos em curso participam cinco arqueólogos, uma antropóloga, um geólogo, um geoarqueólogo, dois técnicos de conservação e restauro, uma historiadora, e de 15 a 18 operários. A intervenção em curso vai contemplar duas fases distintas: a primeira compreende a escavação do subsolo, que vai sofrer o impacto da obra de engenharia; a segunda prevê a recuperação e a valorização da Torre do Jogo da Péla e dos troços de muralha que ainda conserva. Os estudiosos não consideram que o valor arqueológico do local justifique a anulação da obra para ali prevista. “É evidente que não podemos ter a pretensão de preservar tudo aquilo que encontramos pois aí entraríamos em conflito com as necessidades da própria cidade”, considera a arqueóloga Manuela Leitão. “O que se vai fazer no futuro, e penso que a EPUL estará sensibilizada para esta matéria, é aproveitar a valorização que se vai fazer destas estruturas defensivas e reservar um espaço onde se possa expor fotografias, documentação e informação sobre o resultados da escavação.”
Fonte
Aqui há (pré) História
Sérgio Lemos
Arqueólogos, geólogos e antropólogos trabalham juntos para compreender o passado da capital
Vestígios do que era Lisboa há mais de seis mil anos e durante as várias ocupações subsequentes estão a ser descobertos numa acção de exploração arqueológica de grande dimensão, que está a mudar o que se sabia sobre a evolução da cidade. Os trabalhos decorrem na Encosta de Santana, ao Martim Moniz, onde nascerá um empreendimento urbanístico, depois de terminada a intervenção arqueológica.
De pedaços de instrumentos e fogueiras da Idade da Pedra (do Neolítico), a estruturas de habitações da ocupação islâmica, passando por peças de artesanato da Idade do Bronze e os restos do que foi um dia uma necrópole romana, o potencial arqueológico da zona é enorme e está a ser explorado de forma exaustiva. São cerca de dois mil metros quadrados, dos quais já foram escavados 850. “Na zona do casco antigo da cidade, não temos uma área com esta dimensão nem com esta intensidade de ocupação em período pré-histórico, nem com níveis tão antigos preservados como estes”, considera Vasco Santos, arqueólogo do Museu da Cidade.
O passar dos séculos é visível nas várias camadas de terreno que se foram formando graças à própria dinâmica da encosta. Exemplo disso são os coluviões – desprendimentos de terras ao longo da encosta – que, quando mais fortes, arrastavam tudo o que estivesse à frente, deixando cobertas estruturas e objectos de uma determinada época. Os vestígios mais antigos ali encontrados datam do final do quinto milénio a.C., em pleno período Neolítico.
“Além de vestígios de acampamentos, como conchas e lareiras, temos muitos restos de talhe de sílex resultantes da sua preparação para a produção de artefactos”, assinala Vasco Santos, arqueólogo do Museu da Cidade. “Mas temos comparativamente muito poucos artefactos, o que nos leva a supor que aqui podia ser uma zona especializada no talhe do sílex, sendo depois as peças levadas para outros sítios”, explica entusiasmado.
Relativamente à Idade do Bronze (1800 - 800, a.C.), foram encontradas evidências mais conclusivas sobre a fixação efectiva de pessoas na zona. “Já aparecem mais estruturas, que podem indiciar uma ocupação com um carácter permanente. A nível no Neolítico não podemos afirmar que eles estivessem constantemente aqui. Podia ser uma coisa mais sazonal”, explica.
ESPAÇO DEVE SER VALORIZADO
Para Vasco Santos, os achados que têm sido feitos na Encosta de Santana vêm alterar o que sabíamos da cidade de Lisboa. “Em relação à Idade do Bronze e ao Neolítico, é exagerado falar em ‘revolução’, mas isto vem acrescentar muita informação à pouca que tínhamos e aos dados dispersos que íamos tendo pontualmente nesta zona da cidade.”
Nos trabalhos em curso participam cinco arqueólogos, uma antropóloga, um geólogo, um geoarqueólogo, dois técnicos de conservação e restauro, uma historiadora, e de 15 a 18 operários. A intervenção em curso vai contemplar duas fases distintas: a primeira compreende a escavação do subsolo, que vai sofrer o impacto da obra de engenharia; a segunda prevê a recuperação e a valorização da Torre do Jogo da Péla e dos troços de muralha que ainda conserva. Os estudiosos não consideram que o valor arqueológico do local justifique a anulação da obra para ali prevista. “É evidente que não podemos ter a pretensão de preservar tudo aquilo que encontramos pois aí entraríamos em conflito com as necessidades da própria cidade”, considera a arqueóloga Manuela Leitão. “O que se vai fazer no futuro, e penso que a EPUL estará sensibilizada para esta matéria, é aproveitar a valorização que se vai fazer destas estruturas defensivas e reservar um espaço onde se possa expor fotografias, documentação e informação sobre o resultados da escavação.”
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