segunda-feira, janeiro 05, 2004

PEDOFILIA SÓ DE UM LADO? TALVEZ...

É já muito comum a surpresa perante o facto de, até agora, só membros ou simpatizantes do PS terem sido acusados de pedofilia, no processo da Casa Pia.
Ninguém do PSD, PP, BE ou PCP foi até agora envolvido neste caso.
De entre os que se surpreendem, há sempre os que, sempre um passo à frente dos outros, topam logo que está alguma coisa por detrás daquilo, que a eles, perspicazes como o caraças, ninguém os engana, e, por isso, dizem que esta história é só uma cabala contra o PS (a cabala, na realidade, é um texto místico da tradição judaica, que nojo me mete a estupidez da imprensa que agarra nas palavras e lhes dá um sentido inteiramente diverso, já com o termo «tabu» é a mesma coisa - lembro-me de ter discutido com um colega meu, há mais oito anos, sobre este caso da desvirtuação do termo «tabu», e ele a dizer que era preciso argumentar de acordo com o sentido que «a sociedade» dava às palavras... como se os jornalistas tivessem o direito de deturpar a língua). Neste ponto, convergem com os que defendem os socialistas a todo o custo.

Enfim, também me parece estranho que apenas membros e simpatizantes do PS estejam envolvidos.
Estranho, sim, mas não impossível, nem inverosímil de todo.
Apesar de todas as semelhanças, há talvez alguma diferença entre PSD e PS.
É no PS que está a Esquerda liberal por excelência.

Não digo que os de Esquerda sejam mais dados à pedofilia do que os de Direita. Isto de taras e manias sexuais, não escolhe ideologias, penso eu. Qualquer comunista, socialista, social-democrata, populista ou fascista pode sentir impulsos malsãos de índole fornicatória. É humano, que fazer.

Portanto, em termos individuais, qualquer um, de qualquer tendência doutrinal, pode ser pedófilo.

O que digo é que os de Esquerda, Esquerda liberal pelo menos, têm mais tendência para ceder a esses anelos, ou, até, para experimentar os anelos dos outros, só por curiosidade, aquela curiosidade que tantas e tantas vezes se ouviu louvar, nos meios de comunicação social, com o argumento de que «ai, devemos experimentar de tudo...».
Ora, quem defende este princípio e é sincero para consigo mesmo - pelo menos um bocadinho - a experimentação de actividades sexuais eventualmente repulsivas não estará, de todo, fora de hipótese. É só somar dois mais dois.
E aquilo que leva a tal experimentação pode ser um conselho de um amigo, por exemplo, ou, mais provavelmente, uma questão de moda. Não me custa crer que, no seio de uma certa «elite» sócio-económico-cultural urbana, se tenha tornado sinal de secreto bom gosto provar sexo com rapazinhos.

Já Aristófanes, mais de três séculos a.c., fazia notar a presença de certo tipo de vícios sexuais no seio da «intelectualidade» urbana, liberal de princípios e de atitudes...

Assim, não custa acreditar que os figurões de Esquerda implicados no processo Casa Pia possam ser muitos, muitos mais.

Dir-se-á talvez que a pedofilia é um caso à parte, porque se trata de actividade criminosa.
Mas porque é que se trata de actividade criminosa?
Porque a moral vigente assim o determina.

E é bem conhecido o desprezo da Esquerda liberal pela moral vigente que tenha uma origem conservadora...

A pedofilia pode ser crime agora, mas vejamos o que acontece dentro de alguns anos. Ao fim ao cabo, não é verdade que desde há muito se observa, nas sociedades ocidentais, uma tendência crescente para dar mais e mais liberdade de escolha às crianças?

E quem é que acredita que crianças de doze ou treze anos «não sabem o que fazem» em matéria de sexualidade? Há ainda quem pense que o petiz adolescente é um ingénuo coitadinho? Quando, em 2004?
Nem há vinte anos, que se falava muito menos de sexo, e os putos sabiam muito menos, quanto mais hoje.
E não é verdade que circula, por aí, à meia-boca, que há uma «cultura» da sodomia na Casa Pia, mesmo entre os alunos, sem ser necessária a intervenção de gente mais velha?
E atenção que nem todos os rapazes da Casa Pia andavam envolvidos nisso... só alguns. Como em toda a parte, só alguns.

A meu ver, os rapazes de doze ou treze anos que vivem nos meandros da pedofilia, sabem o que têm feito. E duvido que todos eles sejam forçados a fazê-lo.
Lembro-me de ter visto, de relance, na publicidade a um documentário televisivo que ia ser emitido, um homem, barbudo, alemão, creio, a dizer que os adolescentes que se relacionavam sexualmente com homens mais velhos, faziam-no de sua livre vontade. E eu acredito.

Por conseguinte, não me admira o que neste momento está a ocorrer, e não me admira também que, a pouco e pouco, alguns mestres da argumentação, argutos como raposas, bem colocados nos «mé(r)dia», consigam introduzir, na mente das pessoas, a ideia de que os jovens, despertando sexualmente em níveis etários cada vez mais baixos, «também tenham direito à sua sexualidade!».

E, então, num dia futuro em que tal ponto de vista triunfe, estes tempos que agora vivemos serão vistos como nefanda idade das trevas, marcada por uma caça às bruxas mccarthyana... «coitadinhos dos pedófilos, autênticos Giordanos Brunos do século XXI, que foram tão perseguidos pelos retrógados moralistas sexualmente reprimidos!»