sexta-feira, maio 29, 2020

SOBRE O MODO COMO A ELITE REINANTE EM ITÁLIA ENTREGA O PAÍS - E UMA PORTA DE ENTRADA NA EUROPA - À CHINA

Poucos dias depois de a China ter anunciado que estava a enviar suprimentos médicos para Itália, os média estatais chineses exibiram fotos de italianos nas varandas e ruas aplaudindo o hino nacional da China. "Em Roma, enquanto tocava o hino chinês, alguns italianos cantavam 'Grazie, Cina!' nas varandas, sob os aplausos dos vizinhos", escreveu Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China que desenvergonhada e desonestamente deu a entender que os militares americanos haviam trazido o Covid-19 para Wuhan.
A China arvorou-se o papel de salvadora, disposta a correr para ficar ao lado da cama da enferma Itália.
Acontece que uma investigação realizada pelo Financial Times revelou que esses vídeos foram manipulados à luz da propaganda de Pequim sobre o coronavírus. As hashtags #ThanksChina e #GoChina&Italy foram geradas na sequência por robôs. Um estudo realizado pela Carnegie Endowment chamou à Itália "destino alvo da propaganda chinesa".
artigo denominado "porque é tão politizada a epidemia do Covid-19" e publicado no site da embaixada chinesa em Paris, dizia: "algumas pessoas do mundo ocidental estão a começar a perder a confiança na democracia liberal" e "alguns (países ocidentais) tornaram-se psicologicamente fracos".
Antoine Bondaz, pesquisador da Fundação Francesa para Pesquisa Estratégica,disse ao Politico: "a China considera a Europa o calcanhar de Aquiles do Ocidente. Segundo a lógica chinesa, há o Ocidente e nele os EUA que irão opor-se à China por razões estruturais e ideológicas e seus aliados europeus que necessitam da neutralidade em caso de conflito entre a China e os EUA."
De acordo com o tenente-general (aposentado) H.R. McMaster, ex-conselheiro de segurança nacional do presidente Donald Trump, que adianta no seu novo livro «Battlegrounds: The Fight to Defend the Free World», os líderes chineses "acreditam que têm uma janela estreita de oportunidade estratégica para fortalecer o seu regime, reescrever a ordem internacional e puxar a sardinha para o seu lado".
Agora corre-se o monumental risco de a Itália virar o "Cavalo de Troia da China Europa adentro".
Pierre-Henri d'Argenson, destacada autoridade francesa, escreveu no Le Figaro que "a Europa acaba de se tornar na zona tampão no confronto entre a China e os Estados Unidos". Pequim escolheu a Itália como ponto fraco da Europa e age conforme o seu script.
Em Abril de 2019, o governo italiano sob o comando do primeiro-ministro Giuseppe Conte foi o primeiro país do G7 a assinar o Memorando de Entendimento "Iniciativa Belt and Road" da China, durante uma visita oficial do presidente Xi Jinping. De acordo com a análise da revista The Economist, o plano chinês Belt and Road poderá superar o Plano Marshall implementado pelos EUA para ressuscitar as economias devastadas pela guerra na Europa.
A Itália está sendo dirigida por um governo de coligação liderado pelo Movimento 5 Estrelas, partido extremamente pró-chinês, cujo fundador Beppe Grillo tem sido apanhado em flagrante com frequência na embaixada chinesa em Roma. Conforme tem relatado o Conselho Europeu de Relações Exteriores: "em Itália, os lobbies políticos e de negócios da China estão em franca ascensão". O ex-primeiro ministro Matteo Renzi visitou Pequim para participar em conferências.
Há cinco anos, a China National Chemical Corp comprou a Pirelli, empresa italiana de 143 anos e a quinta maior fabricante de pneus do mundo. Um estudo publicado pela KPMG antes do acordo fechado com a Pirelli, revelou que as aquisições chinesas em Itália totalizaram 10 biliões de euros num espaço de tempo de cinco anos (investimentos que somam 13 biliões de euros). Um terço das compras externas feitas em Itália foram efectuadas por chineses. O objectivo é transformar a Itália no "principal destino europeu de investimentos altamente cobiçados pela China".
Agora a China está a querer tomar o controle da infraestrutura do sul da Europa. A China já recebeu sinal verde para administrar o maior porto marítimo da Grécia, o porto de Pireu em Atenas que Pequim planeia transformar no maior porto comercial da Europa. Na sequência a China começou a projectar a expansão de portos italianos, onde quatro portos importantes também estão na fila dos investimentos chineses. Zeno D'Agostino, presidente do porto da região norte de Trieste salienta que "a China está-se a abrir porque se sente forte".
A contemporização política de Itália em relação à China ficou escancarada nos calamitosos primeiros dias da crise do coronavírus.
A 21 de Janeiro, o ministro da cultura e turismo da Itália convidou uma delegação chinesa para um concerto na Academia Nacional de Santa Cecília para a inauguração do ano da Cultura e Turismo Itália/China. Michele Geraci, ex-subsecretário de desenvolvimento da Itália, não tinha certeza se aquele era o lugar certo para ele estar. "Será que temos realmente a certeza de que queremos patrocinar isto?", disse Geraci fitando os seus colegas. "Deveríamos mesmo estar hoje aqui?". Dias mais tarde, em inúmeras cidades italianas, como Florença e Prato, reduto chinês da manufactura, presidentes de câmara e comunidades locais promoveram a iniciativa "abrace um chinês" para combater a xenofobia e o racismo.
Em Roma, o presidente de Itália Sergio Mattarella, visitou uma escola que conta com alta percentagem de estudantes chineses, no sentido de combater a "discriminação" e Nicola Zingaretti, líder do Partido Democrata encontrou-se com o embaixador chinês em Roma. Entretanto, redes de TV italianas organizaram degustação de produtos chineses ao vivo. Este foi o erro fatal de Itália logo no início: combater o racismo em vez de combater o vírus, que em poucos dias iria devastar o país.
A China teve competência suficiente para fazer uma lavagem cerebral na opinião pública italiana. Numa pesquisa de opinião publicada a 17 de Abril, 50% dos Italianos considera a China um "país amigo" (apenas 17% dos Italianos pensa o mesmo dos Estados Unidos). Quanto à disputa pelo poder global, a Itália deveria ser aliada de que país? A China está à frente dos EUA 36% a 30% respectivamente.
A 12 de Março, o ministro das relações exteriores de Itália, Luigi Di Maio, festejou a chegada de um carregamento de suprimentos médicos da China. "Não esqueceremos aqueles que estavam próximos de nós neste momento difícil" ressaltou Di Maio. Não há necessidade, a China lembra-los-á.
Walter Ricciardi, conselheiro da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do governo italiano tuitou: "Obrigado China!".
Agora sabemos que enquanto o regime chinês fazia o planeta cair no conto do vigário quanto ao contágio do Covid-19, o país armazenava suprimentos médicos. Conforme o editor do jornal BILD da Alemanha escreveu numa carta ao presidente chinês Xi: «suponho que considera uma grande "amizade" quando envia generosamente máscaras ao redor do mundo. Isso não é amizade, eu chamaria a isso imperialismo escondido atrás de um sorriso, um Cavalo de Tróia.»
Nenhum ministro, nenhuma autoridade italiana criticou a China por ela ter abafado a epidemia nem por ter "sumido" com testemunhas.
"Pela primeira vez em muitos anos, os países ocidentais uniram-se para pedir que a China esclareça as circunstâncias em torno do aparecimento do Covid-19 e também sobre a disseminação do vírus", Paolo Mieli escreveu num editorial de primeira página no jornal de maior circulação de Itália, Il Corriere della Sera. Mieli apontou os Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, França e Alemanha: "Quem está a faltar? A Itália, o único país do mundo ocidental a receber meio milhão de máscaras enviadas pela China (mediante pagamento) com a máxima pompa".
A mundialmente famosa Indústria têxtil italiana foi uma das principais vítimas da expansão da globalização liderada pelo desonesto dumping praticado pela China. A China está agora a limitar a Itália a uma posição de ajudar a espalhar e implementar a sua propaganda e ânsia de poder. Conforme escreveu o analista italiano Francesco Galietti, a Itália tornar-se-á "no alvo da 'sedução' chinesa, uma mistura de dinheiro vivo e 'poder de persuasão', dinheiro e influência". A título de exemplo aponta o Banco Popular da China: "o banco tem vindo a acumular participações acima de 2% (o que torna necessário fazer a Declaração de Aquisição de Participação Acionária Relevante em Itália) numa série de aquisições das maiores empresas de propriedade accionária de Itália, incluindo a FCA (grupo Fiat Chrysler), a Telecom Italia e o Generali Group, a maior seguradora de Itália".
A China também investiu em entidades estratégicas de energia de Itália, como Eni e Enel e no grupo italiano de serviços petrolíferos Saipem.
Essa penetração na economia também terá enormes consequências para a área da segurança. Nos primeiros dias da epidemia do Covid-19 na Itália, que está a ser seduzida com a promessa de um investimento de US$3 biliões da Huawei no sistema de telecomunicações do país, anunciou que não planeia impedir que as empresas chinesas de telecomunicações participem da futura rede 5G do país. É um projecto que o Ministro da Justiça dos EUA William P. Barr considerou um "perigo monumental".
"Os efeitos geopolíticos da pandemia poderão ser significativos", salientou o Secretário-Geral da OTAN Jens Stoltenberg. "Alguns aliados são mais vulneráveis a situações nas quais a infraestrutura crítica poderá ser vendida" na "onda de aquisições" da China. O Secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, também alertou que a China procurará tirar proveito da pandemia "para promover os seus próprios interesses e semear divisão na Aliança e na Europa".
A Itália é o país mais vulnerável a esta ofensiva chinesa. É um dos países mais endividados do mundo e conta com um crescimento económico próximo de zero. Além disso é um dos mais instáveis e frágeis governos da Europa, isto fora ser um dos países mais castigados em número de mortos por conta do coronavírus da Europa, uma experiência que uma enfermeira italiana comparou a uma "guerra mundial"
A Itália já é o homem doente da Europa. Devido à crise do coronavírus chinês, o país testemunhará um colapso no PIB (-9,5%) e a explosão da dívida pública avaliada em 160% do produto interno bruto, a mais alta desde a Segunda Guerra Mundial. Pequim sabe disso e reconhece que "a Itália tem muitos problemas económicos, que a Europa está em crise e que a Iniciativa Belt and Road é o único plano de investimento global de peso existente".
"A possibilidade da Europa se tornar num museu ou num parque de diversões culturais para o novo rico da globalização não pode ser totalmente descartada", salientou o já falecido historiador Walter Laqueur. A queda dramática de Roma pode significar a ascensão igualmente dramática de Pequim. É um gigantesco alerta para o Ocidente.
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Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/16073/italia-cavalo-troia-china

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Por cá não é demasiado diferente o panorama... nos grandessíssimos mé(r)dia, todos os dias se ouvem ataques nos telejornais aos EUA e ao Brasil, mas nunca há uma só crítica à China...