quarta-feira, agosto 06, 2025

QUEM QUER BOMBAS ATÓMICAS? QUASE TODA A GENTE COM RESPONSABILIDADES...

Aprendi na disciplina de História do 12º ano, ano lectivo de 1990/91, que, de acordo com as gerações da chamada «Nova História», ou a História estudada de forma mais abrangente e científica, pois neste âmbito, dizia-se que as grandes mudanças, as de índole estrutural, não aconteciam de repente mas sim ao longo dos anos, das décadas, dos séculos. Nessa altura, perguntei ao «stôr» se essa perspectiva não teria ficado desactualizada a partir do uso da bomba atómica, que hoje faz oitenta anos, pois que teve lugar a 6 de Agosto de 1945. O docente sorriu e respondeu que, ao fim ao cabo, nada mudou desde que essa bomba explodiu de facto - ou se não disse isto, algo análogo deve ter comentado. Eu insisti que, em potencial, tudo mudou - uma guerra atómica duraria escassas horas e alteraria o planeta todo para sempre a um nível tal como nunca tinha acontecido.
De lá para cá, não evoluí grande coisa nesta opinião, pois que continuo a pensar fundamentalmente o mesmo...
Ora o mundo continua a ser regido pelas democracias ocidentais capitalistas, é certo, o Ocidente continua a liderar e orientar o mundo, é certo, os Anglo-Saxões continuam a estar no topo da hierarquia do poder (EUA, RU, Austrália, Canadá), é certo, mas o que também é certo é que a guerra, aliás, a política da guerra, ficou incontestável e incontornavelmente diferente.
O confronto mundial acabou em 1945, e não foi só por a Alemanha se ter rendido em Maio - ainda que o não tivesse feito, ainda que o cabo austríaco tivesse meios e brios para continuar o combate, o magno conflito bélico que opunha os titãs do mundo iria acabar em pouco tempo, de uma maneira ou doutra, pois que não havia Alemanha nenhuma que pudesse resistir a uma bomba atómica, ou, se fosse preciso, a uma chuva de bombas atómicas, porquanto a indústria dos netos de Hengist e Horsa sita no outro lado do Atlântico teria bem poder para isso, que os tipos podem ouvir blues e jazz, mas corre no seu sangue o ânimo industrioso do norte germânico. Os Ianques podiam nessa altura ter aproveitado para aniquilar Moscovo, ninguém conseguiria impedi-lo, só mesmo o humanismo pacifista é que o evitou. Pelo sim pelo não, a URSS tratou de adquirir também a sua própria bomba atómica, o que aconteceu em 1949. Ao longo das décadas seguintes, outros países com alguma pretensão a algum poderio militar considerável tiveram de se munir com a arma do apocalipse - China, RU, França, Coreia do Norte, Israel, Índia, Paquistão. É oportuno e há-de ser sempre oportuno lembrar que a Ucrânia não estaria agora a ser invadida se tivesse conservado na sua posse as armas nucleares estacionadas no seu território desde o tempo da URSS.
Esta alteração do poderio político-militar mundial alimenta o multi-milenar percurso da humanidade no que respeita à supremacia do intelecto sobre a força bruta - e, num contexto ocidental, do fortalecimento estrutural da Democracia. Porquê? Porque esta é a tendência estrutural do próprio conceito de arma desde que o homem aprendeu a aperfeiçoar pedras de sílex para lutar e a usar o fogo para caçar animais de grande porte. A arma, símbolo por excelência do guerreiro, é, ao mesmo tempo, uma ferramenta com potencial para fomentar a igualdade no mais longo prazo - porque, através da arma, um indivíduo de corpo mais fraco pode vencer um indivíduo de corpo mais forte, sendo isto tanto mais verdadeiro quanto mais a arma se desenvolver. Indivíduo A pode ser ligeiramente mais fraco fisicamente do que indivíduo B mas pode vencê-lo com uma pedra afiada. Indivíduo C pode ser muitíssimo mais fraco fisicamente do que indivíduo D, mas pode vencê-lo com uma pistola. Um Povo de burgueses capitalistas com 3621383 soldados conseguiu vencer por completo um império de samurais e pilotos suicidas com 7900000 soldados, usando para isso uma superioridade industrial considerável e, também, duas bombas atómicas, na contenda que ficou conhecida como Guerra do Pacífico...