UMA DATA FOLCLÓRICA QUE SE PAGANIZA PARA HONRAR O QUE HÁ DE MAIS SAGRADO DA HERANÇA ÉTNICA



O altar, brilhando auspiciosamente



No passado dia vinte e seis de Maio, realizou-se em Sintra um ritual em honra de Bandia, como recuperação-transformação pagã do dia de S. Torquato, vinte e dois de Maio, isto devido à forte possibilidade de o alegado santo cristão Torquato ser eventualmente um sucedâneo cristão para ocultar o culto de Bandua, como já aqui foi referido: http://gladio.blogspot.pt/2012/05/mais-uma-data-paga-por-tras-e-acima-dos.html

O folclore, tendo um fundo essencialmente pagão, constitui uma boa fonte de reconstrução religiosa pagã, aliás, melhor dizendo, de restauração da religiosidade étnica. As religiões pagãs da Antiguidade europeia morreram praticamente todas, é certo - morreram, não por degeneração mas sim porque foram assassinadas, isto é, perseguidas e proibidas. As religiões pagãs morreram, sim - mas os Deuses são eternos. A tarefa dos actuais europeus leais à sua herança é pois a de reabrir os portais de comunição com as Divindades do seu sangue, isto é, as Deidades da sua Ancestralidade. E isto faz-se por meio, não apenas da reconstrução do que for possível e desejável de acordo com as fontes antigas que fornecem testemunho sobre os cultos de há mil e setecentos anos, mas também através do estudo do folclore, ou seja, das tradições festivas e mitológicas da cultura popular que constituem sobrevivências veladas de cultos pagãos antigos.

Auspicioso foi o facto de, uma vez em busca de um local adequado para realizar o ritual, e já com pouca esperança de encontrar rapidamente um espaço onde não estivesse nenhum casal de namorados ou alguém a ver, eis que surge diante do grupo uma pequena extensão de terra plana, isolada, perfeitamente apropriada para o evento - sobretudo porque nesse lugar se encontra colocada a peça de arte, composta de uma sucessão de arcos de tamanho crescente e intitulada «Caminho da Luz», que nenhum dos integrantes do grupo conhecia. O nome da obra só por si diz muito - e o facto de ser composto de arcos combina-se perfeitamente com a intenção, por mim declarada na breve explicação anterior ao ritual, de construir novos portais para a ligação aos Deuses.

Sobre as lages afortunadamente colocadas junto ao maior dos arcos, foi colocada a roda de mármore vermelho feita sob encomenda por dois artistas de acordo com a imagem da pátera de Band Araugel; junto à roda, apoiada sobre um suporte de madeira de carvalho pirogravado com trísceles, foram colocadas quatro velas, três delas acesas, em representação dos quatro altares, três deles com fogo, junto à imagem central da pátera; as rochas e a árvore, igualmente presentes na imagem da pátera, encontravam-se sobejamente presentes no ambiente circundante; foi também colocada uma pequena estátua de granito, comprada no Museu Nacional de Arqueologia, reproduzindo uma das grandes estátuas de guerreiro lusitano-galaico, o qual representa eventualmente, ou uma Divindade marcial ou um Ancestral protector da comunidade, o que, por motivos óbvios, se enquadra perfeitamente, a nosso ver, no contexto da sacralidade de Bandua, que é, ao que tudo indica, uma Divindade de atributos bélicos, protectora da comunidade.

Invocou-Se Bande e ofereceu-se-Lhe alimento em sacrifício, partilhando entre os celebrantes dos mesmos alimentos. No fim do rito, o torques - espécie de colar feito de metal retorcido, usado por Lusitanos e Celtas, também por Persas (embora já diferenciados dos dois primeiros) - usado pelo oficiante foi colocado junto à roda de mármore, uma vez que, ao que tudo indica, constitui um símbolo de distinção, ora de carácter marcial ora de carácter soberano, ou de ambas as coisas, e cujo nome parece ter originado o de S. Torquato, para além de estar também presente em todas as estátuas de guerreiros lusitanos-galaicos. A cor vermelha do mármore e das vestes do oficiante, bem como de uma das velas, diz respeito a um dos epítetos do Deus, Roudeaicus, que parece significar «Vermelho» - Bande Rodeaicus será portanto o Bande Vermelho, podendo esta cor ser alusão ou à sua função guerreira ou à sua elevação espiritual, uma vez que um dos epítetos do Deus irlandês Dagda é precisamente Ruadh Rofhessa, ou «Vermelho de Ciência».