SOBRE O MOVIMENTO GÜLEN

O imã turco Fethullah Gülen inspira uma poderosa organização mundial que está presente em mais de cento e trinta países - do Quénia ao Casaquistão - e controla mais de mil escolas, além de meios de comunicação sucial e bancos. O dito líder espiritual vive agora nos EUA, mais concretamente na Pensilvânia. Mas na Turquia tem cerca de dez milhões de seguidores, que doam dinheiro em barda para a organização.

As escolas corânicas, ou seja, os estabelecimentos de ensino que ensinam o Alcorão, proliferaram depois do 11 de Setembro e oferecem a milhares de jovens paquistaneses e afegãos educação gratuita e, muitas vezes, também alojamento e comida. São financiadas com doações dos simpatizantes, particularmente os de origem saudita, que canalizam milhões e milhões para esta causa.

As escolas de Gülen, entretanto, são muito mais sofisticadas do que as madrassas paquistanesas, possuindo, ao contrário destas últimas, equipamento de alta tecnologia. Acresce que muitos alunos destes estabelecimentos tem bolsas de estudo financiadas por empresários. Além disso, o movimento Gülen entrega muito dinheiro a escolas laicas, mas apenas daquelas cujos professores aceitarem uma certa disciplina: nada de tabaco, nada de álcool e nada de divórcios...
Os críticos mais acérrimos descrevem o movimento Gülen como uma mafia. Mas nem sempre o fazem impunemente, bem entendido... no ano passado, um chefe de polícia que escreveu um livro sobre o assunto e mais dois jornalistas de investigação foram presos na Turquia por andarem a investigar o caso. Um destes, Ahmet Sik, gritou, ao ser detido, «Quem lhes toca, queima-se.» E continuam os três encarcerados.

Gülen saiu da Turquia em 1999, quando um vídeo gravou a sua voz incitando os seus seguidores para que se infiltrassem nas principais estruturas do poder: «devem mover-se dentro das artérias do sistema sem que ninguém note a vossa existência, até que cheguem aos centros de poder. Devem esperar até ao momento em que tenham acumulado todo o poder do Estado, até que tenham posto do vosso lado todo o poder da instituição constitucional da Turquia.»

Pelos vistos, a sua postura secretamente islamizadora já não incomoda o poder que entretanto se instalou na Turquia, pois que, segundo diz um activista turco da liberdade de imprensa, Ferai Tinch, «a detenção dos jornalistas é a ponta do icebergue. Ninguém se atreve a escrever directamente contra o movimento Gülen.»