domingo, novembro 16, 2014

MAIS INDÍCIOS DE QUE A TURQUIA APOIA O ESTADO ISLÂMICO

Sim, o tal país «laico» asiático que a elite reinante quer meter na Europa...

A morte de uma jornalista enquanto investigava o alegado conluio da Turquia com o grupo sunita é a última de uma série de controvérsias em redor daquele que, em tempos, foi o maior aliado dos EUA na região.
Chamava-se Serena Shim, tinha nacionalidade libanesa e norte-americana e trabalhava para Press TV do Irão. Foi vista a 19 de Outubro na passagem de Akçakale, que liga a cidade turca de Urfa à Síria, fronteira que a repórter usou para tentar chegar a Kobane, o enclave sírio curdo na fronteira com a Turquia que milhares de militantes do auto-proclamado Estado Islâmico (EI) estão a tentar tomar desde 16 de Setembro.
Ao longo dos dias seguintes, Shim, natural do Michigan de 29 anos e mãe de dois filhos, chegou à cidade turca de Suruc, também na fronteira com a Síria. Daí não conseguiu alcançar o destino final de reportagem; dias depois de ter denunciado pressões por membros da secreta turca, que lhe exigiram que parasse de investigar o alegado financiamento turco ao EI, o carro que alugou colidiu com uma máquina de fazer cimento na cidade, na tarde de 26 de Outubro. Teve morte imediata.
Judy Poe tem a certeza que a morte da filha "não foi acidental". Numa entrevista à "Fox News" na semana passada, Poe disse acreditar que Serena "deu a vida pela verdade". Afinal, "ela temia pela sua vida e tinha sido ameaçada" pelos agentes turcos que a contactaram. "Fiquei muito surpreendida com essa acusação", disse Shim à televisão norte-americana poucos dias antes de morrer. "Ocorreu-me até contactar directamente os serviços secretos da Turquia, porque não tenho nada a esconder, não fiz nada que não fosse o meu trabalho e gostava de lhes sublinhar isso. Mas estou preocupada, porque como devem saber a Turquia foi considerada pela Repórteres Sem Fronteiras uma das maiores prisões de jornalistas do mundo. Estou com medo do que eles poderão usar contra mim."
A morte de Serena - um mistério cujos contornos continuam por apurar mas que o Irão tem usado na sua retórica contra a Turquia - foi o último de uma série de incidentes a colocar o país debaixo dos holofotes internacionais. Desde o dia 2 de Outubro, quando uma maioria qualificada de deputados do parlamento turco autorizou o envio de soldados para o terreno sírio e iraquiano, a fim de travar os avanços do EI, o mundo inteiro está em suspenso. O que aconteceu à luz verde dos legisladores turcos quanto ao envio de tropas para o terreno, ao acolhimento de rebeldes sírios moderados para treino em solo turco e à abertura de bases militares estratégicas para apoiar a coligação internacional?
"Ancara está mais preocupada com o governo sírio e com o PKK [partido dos trabalhadores do Curdistão] do que com o EI", explica ao i Daniel Pipes, jornalista e historiador norte-americano que dirige o Middle East Forum. "O EI está disposto a aceitar o apoio turco ainda que vejam o primeiro-ministro e os seus conterrâneos como kafirs [infiéis] a quem precisam de mostrar o verdadeiro Islão", aponta o especialista. "Mas este problema, a juntar a outros, como os exercícios conjuntos da Turquia com tropas chinesas, deveria causar uma avaliação profunda da sua adequação à NATO."
Em tempos a guarda avançada dos Estados Unidos no Médio Oriente contra a URSS durante a Guerra Fria, a Turquia encontra-se agora entre a espada e a parede e as vias que tem escolhido seguir perante a ameaça que o EI representa para a região e o resto do mundo põem em risco a manutenção das relações privilegiadas com o padrinho norte-americano e a sua posição na aliança militar.
Apesar dos riscos, Dias Farinha crê que "é mais provável que a Turquia mantenha o jogo duplo". Para o director do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Lisboa, apesar de a Turquia ser secular e não árabe "há um certo alinhamento ideológico" dos líderes do país com o sunismo do EI, "ainda que moderado", o que "impede e tem impedido uma participação activa na guerra" que os Estados Unidos lançaram por via aérea no final de Agosto e que têm mantido contra vários alvos do EI no Iraque e na Síria. "Mas com estas hesitações", ressalta o especialista português, "a Turquia acaba por perder também o apoio dos EUA. Recorde-se que, em 2003, uma armada norte-americana ficou a pairar em frente a uma base turca à espera para atacar o Iraque e a Turquia não autorizou essa passagem de aviões pelo seu território. Tem-se criado um contencioso que naturalmente está a adiar, por exemplo, qualquer negociação da adesão da Turquia à União Europeia para um futuro nada próximo".
O lema "inimigo do meu inimigo meu amigo é" será o que melhor explica a relutância da Turquia em participar nos bombardeamentos da coligação internacional contra o Estado Islâmico. Entre travar os avanços do grupo sunita extremista ou impedir que as aspirações de soberania dos curdos engrandeçam com os apoios internacionais que têm recebido para destronar o EI em Kobane, a Turquia de Recep Tayyip Erdogan tem escolhido a última hipótese. E com isso encontra-se cada vez mais sozinha e reforça os rumores e suspeitas de que tem financiado o EI, seja através da compra de petróleo das refinarias iraquianas que o grupo controla desde Junho, seja facilitando a passagem de elementos do grupo pelas suas fronteiras.
Até há pouco mera especulação, a hipótese tem ganho forma nos media mainstream no último mês. Na semana passada, a revista norte-americana "Newsweek" publicou "EI vê a Turquia como sua aliada", um artigo com base em testemunhos de um antigo membro do grupo fascista, em tempos responsável pelas comunicações entre os vários bastiões, que se auto-intitula Sherko Omer.
Omer viajou para a Síria para combater o sangrento regime de Bashar al-Assad, que mergulhou o país numa guerra civil que já dura há mais de quatro anos, e diz que acabou por enfrentar "uma guerra sectária horrenda, à qual é impossível escapar". Viu-se obrigado a juntar-se ao Daesh (nome árabe do Estado Islâmico) porque sabia que lhe esperava a morte certa se desertasse e só conseguiu escapar quando surgiu a hipótese de se render às forças curdas que têm sido as grandes aliadas da coligação no terreno - e as que a Turquia mais teme.
Foi a partir daí que Omer observou como as autoridades turcas permitiram a passagem de camiões para o bastião do EI em Raqqa. "Passaram a fronteira para a cidade e voltaram a solo turco para atacarem sírios curdos na cidade de Serekaniye no Norte da Síria em Fevereiro", sublinha a fonte. Mais à frente no mesmo artigo acrescenta que, como técnico de comunicações do grupo, conectou "comandantes de campo do EI e comandantes sírios a várias pessoas na Turquia", ligações que tiveram lugar "em inúmeras ocasiões" e nas quais os membros do EI "raramente falaram árabe, quase sempre turco porque estavam a falar com oficiais turcos. Os comandantes do EI", remata, "disseram-nos para nada temermos porque tinham total cooperação dos turcos".
"Nenhum de nós sabe em detalhe como funciona o Estado Islâmico", diz Pipes sobre o financiamento do grupo, não sem antes admitir que "estados ocidentais que não os EUA e o Reino Unido têm historial de pagarem resgates por reféns" e que, nesse sentido, "pode dizer-se que estão a financiar o EI".
É sabido que, antes de o EI declarar a instalação de um califado na região, a Arábia Saudita estava a financiar o grupo como vários outros que estão a lutar contra as tropas de Assad. "O país", explica Dias Farinha, "apoiava este exército islâmico mas não podia concordar com tal anúncio; o califado representa a sucessão política do profeta Maomé e a Arábia Saudita considera-se, ela própria, a líder do Islão".
Em Julho juntaram-se a estes factos alegadas declarações da embaixadora da União Europeia no Iraque, Jana Hybaskova, sobre haver "nações ocidentais" que estão a patrocinar o grupo extremista e a financiá-lo há pelo menos um ano. Os contactos do i com o gabinete de Hybaskova têm sido infrutíferos, ficando por esclarecer a que tipo de financiamento se refere ou se proferiu de facto as acusações.
Apesar de não haver provas concretas disso, há pontos que parecem reunir algum consenso, como é o caso da morte de Serena Shim. "Suspeito de acção criminosa, mas é especulação, não tenho factos", diz Pipes ao i quando questionado sobre esse assunto.
Notícias desta semana deram conta de que o líder do EI poderá ter ficado ferido num das dezenas de ataques aéreos que a coligação levou a cabo no fim-de-semana, o que a confirmar-se poderá ser um primeiro grande golpe ao grupo. "Abu Bakr al-Baghdadi parece ser fulcral para o sucesso [do EI], pelo que suspeito que a sua possível incapacidade possa provocar danos, pelo menos no curto prazo", defende Pipes. Mas quanto à postura da Turquia, onde dos 80 milhões de habitantes 25 milhões são curdos e apoiam os irmãos de armas iraquianos e sírios, o especialista diz que só haverá hipóteses de se alterar quando for realmente forçada a fazê-lo.
"O EI pode ser ambicioso o suficiente para atacar território turco. Afinal de contas, [os militantes] fizeram 49 reféns no consulado turco em Mossul [Norte do Iraque] e já tentaram levar a cabo pelo menos um atentado terrorista contra um líder sírio lá. Portanto podemos supor que, se o grupo ganhar controlo de Kobane e tentar entrar na Turquia, que isso altere a postura de Ancara."
*
Fonte: http://www.ionline.pt/artigos/mundo/estado-islamico-perigoso-jogo-duplo-da-turquia/pag/-1

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estive a rever este importante blog de informacao e também esclarecimento que a todos nos europeus diz muito. Se não diz a muitos pretensos nacionalistas, deveria dizer se não andassem com palas como os burros. Isto talvez porque o nacionalismo pelo menos em Portugal será sempre causa perdida por acima da nação estarem fundamentalmente a religião e o que dai advem. Quando não se entende que a europa não nasceu depois da religiao imposta pela forca das armas, da humilhação e coação, e se adere aos sistema dos senhores do mundo que fazem lei os seguimentos das suas me tês doentias, ..... Vai dai ate islâmicos poderão ser um dia qualquer. Um verdadeiro nacionalista europeu não só desprezara o islão e seus aberrantes costumes como lhes dara luta ate a última gota de sangue. .... Espanta me o não existirem praticamente comentarios a este blog com o islao a entrar nos pela porta dentro. Ser nacionalista e amar as suas raízes, a sua proveniência. Aceitarmo nos como somos. E nao acatar um qualquer deus que vem de outro mundo. ... Ser nacionalista e defender a nação acima da religiao. Mas muitos devem gostar de viver com as ma abras patranhas que inventaram para controlar a mente do homem. Vocês lá sabem. Mas paraísos não tereis. Simplesmente porque eles não existem. Portugal estará sempre vivo! A europa tambem. O resto.... Tudo passara. Ou bem ou mal. Depende da aceitação da origem de cada um. Parabéns ao autor do blog. (Yamentty)

17 de novembro de 2014 às 06:04:00 WET  
Blogger Caturo said...

Muito obrigado.

17 de novembro de 2014 às 16:06:00 WET  

Enviar um comentário

<< Home