ÉTICA ANCESTRALISTA DE UM DOS MAIORES SÁBIOS DO OCIDENTE - JÂMBLICO RECORDA PITÁGORAS

«Poucos dias depois entrou num ginásio e, sendo rodeado por um grupo de jovens, conta-se que pronunciou certos discursos nos quais exortava ao cuidado com os mais velhos, demonstrando que era preciso honrar o temporalmente precedente diante do posterior no cosmos, na vida, nas cidades e na natureza em geral. Como exemplos aduziu o levante diante do poente, o alvor diante da tarde, o princípio diante do fim, o nascimento diante da destruição, os nativos diante dos alógenos, os fundadores diante dos governantes e, em geral, os Deuses diante dos demónios, os demónios diante dos semi-deuses, os heróis diante dos homens e, entre estes, os procriadores diante dos jovens.

 

Tudo ito, segundo o raciocínio dedutivo, disse-o para que valorizassem os seus pais mais do que a si mesmos, pois deviam-lhes grande gratitude, tal como um morto a deveria a quem o reconduzisse de novo à luz. Dizia por isso que era justo amar os primeiros e maiores benfeitores sobre todas as coisas e nunca os entristecer, pois só os pais precedem os filhos em boas acções pelo nascimento e os ancestrais são causa de toda a boa fortuna , de forma que são os maiores benfeitores quem mostra que não é possível comportar-se mal a respeito dos Deuses. E é natural que os Deuses perdoem aos que honram os seus pais mais do que qualquer outra coisa, pois aprendemos com os pais a honrar os Deuses.»

 

 

Jâmblico de Calcis, Sobre a vida de Pitágoras.

 

Pitágoras, matemático, cientista, filósofo, quase dispensa apresentações, devendo entretanto notar-se a intrigante curiosidade de lhe ter sido atribuída uma aprendizagem junto dos Druidas, sábios celtas; Jâmblico foi um dos últimos filósofos da Paganidade antiga e um dos nomes do pensamento pagão contra a invasão espiritual cristã. Jâmblico e Pitágoras são por isso, cada qual na sua medida, duas das maiores referências intelectuais do verdadeiro Ocidente.