sexta-feira, março 07, 2014

QUEM QUER SANÇÕES CONTRA A RÚSSIA - OS EUA

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2014_03_06/San-es-anti-russas-ter-o-efeito-bumerangue-0771/
A Europa não se apressa a aderir às sanções anti-russas decretadas pelos EUA. Na véspera, Washington anunciou a suspensão da cooperação militar e económico-comercial com Moscou, apelando à Europa para empreender passos idênticos.
Enquanto isso, a maioria dos países comunitários não se dispõe a pôr em jogo os contactos económicos existentes com a Rússia por causa da Ucrânia, que não querem ver integrada na UE.
Ao mesmo tempo, os EUA têm vindo a aumentar a pressão sobre a União Europeia, insistindo em que sejam introduzidas sanções contra a Rússia, inclusive de caráter econólmico. Caso contrário, as supostas medidas financeiras não surtirão um efeito pretendido.
EUA praticarão sanções contra funcionários russos
É verdade que os Estados europeus mantêm com a Rússia relações mais estreitas. O volume anual das trocas comerciais anuais estima-se hoje em 460 mil milhões de dólares contra um indicador análogo com os EUA avaliado em 40 mil milhões. Na Rússia operam vários consórcios europeus. As residências da Europa beneficiam de gás russo. Romper estes laços significaria pôr em causa a economia comunitária em vias de recuperação após a crise. Por outro lado, a Europa tem de reagir de uma ou de outra forma. Por isso, pretende limitar-se à prática de restrições no regime de vistos, recorrendo a algumas outras medidas anti-russas do género.
Todavia, tal postura iria produzir um negativo impacto sobre a UE, sustenta o politólogo Alexander Tevdoi-Burmuli:
“Antes de mais, isto diz respeito aos projectos sectoriais e políticos, aliados ao actual regime de simplificação do regime de vistos. Como já foi declarado, a UE poderá recusar vistos de entrada aos cidadãos russos. Por isso, independentemente de decisões concretas sobre a redução dos contactos económicos com a Rússia, podemos constatar que será causado um dano económico.”
Para eventuais problemas com a concessão de vistos apontou ontem o ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel Garcia Margallo, numa aparente alusão a que Moscovo deveria rever os seus enfoques da questão ucraniana. Pelos vistos, o diplomata fez uma declaração precipitada, se tomarmos em conta que o Orçamento do seu país foi engrossado, no ano passado, com mil milhões de dólares devido às viagens de turistas russos. Mas se a Europa decidir fechar as suas fronteiras, os russos, com muita facilidade, passarão a viajar com destino à Turquia, à Tailândia e outros países de elevada atracção turística. Em última análise, os empresários europeus irão sofrer prejuízos em prol da Ucrânia a qual não desejam ver filiada na União Europeia. Tal cenário foi traçado há dias pela líder da Frente Nacional da França, Marine Le Pen.
Parlamento da Crimeia aprovou unanimemente decisão de aderir à Rússia
Tem sido muito mais complicada a situação que se configura na área de investimentos. A empresa britânica BP e o consórcio holandês Shell declaram-se dispostos a continuar a cooperação com a Rússia e a fazer investimentos não obstante a ameaça de sanções da parte das autoridades europeias e norte-americanas. O dirigente do consórcio alemão Siemens, Joe Kaeser, também se opôs à ideia de medidas anti-russas. Os homens de negócios sabem que quaisquer sanções seriam uma espada de dois gumes, salienta o politólogo russo Fiodor Voitolovsky:
“A introdução de sanções nas condições da interdependência económica seria desvantajosa para todas as partes. As sanções anunciadas por Washington e examinadas agora pelos Estados comunitários terão um efeito negativo tanto para os investidores americanos e europeus, como para a cooperação em diversas esferas em geral. Não se trata apenas do sector económico-financeiro, pois que serão afectadas ainda as áreas de ciência, ensino e cultura. Além disso, os EUA e a Rússia têm colaborado nas vertentes de energia atómica e aeroespacial. Suspender ou limitar a interacção equivale à criação de riscos sistémicos de longo prazo.”

Mas se o Ocidente optar por sanções, os senadores russos prontificam-se a dar uma resposta adequada. O Conselho da Federação (câmara alta do parlamento) está preparando um ante-projecto que permita ao presidente e ao governo congelar as contas de empresas estrangeiras, arrestar os seus bens e até confiscá-los. Os deputados esperam evitar que o documento seja aprovado. No entanto, o projecto-lei poderá ser apoiado por deputados de ambas as câmaras do parlamento da Rússia.

Mais uma vez, interesses americanos a moverem mundos e fundos para virarem baterias contra o urso eslavo e a causarem dificuldades aos Europeus e ao projecto europeu, como já Alexandre del Valle indicava no seu livro «Guerras Contra a Europa» (1999). Não significa isto, entretanto, que a Europa Ocidental se deva oferecer de bandeja à Rússia. A revolta nacionalista ucraniana contra o poder russo é compreensível como reacção contra o imperialismo de Moscovo, e nenhum imperialismo é bom, muito menos um imperialismo que foi sempre militar e politicamente opressivo. E os ianques, claro, fazem como os muslos na Tchetchénia e noutras repúblicas do Cáucaso, utilizam o nacionalismo local para meter ali o bedelho. Em suma, mais uma vez a raiz maior do problema deve-se à mentalidade de quero, posso e mando, ou seja, ao défice democrático.