terça-feira, setembro 03, 2013

SOBRE INTERESSES ECONÓMICOS ÁRABES POR TRÁS DO CONFLITO NA SÍRIA

Agradecimentos a quem aqui trouxe este artigo que, no essencial, parece ir ao encontro do que Alexandre del Valle já dizia em «Guerras Contra a Europa» (1999) quando fazia notar a questão do confronto económico-político entre EUA e Rússia a respeito do controlo dos gasodutos na Ásia Central e arredores, e de como os Ianques apoiavam as forças islamistas como arma de arremesso contra o poder do urso eslavo na região: http://caosnosistema.com/gasoduto-da-siria-e-os-interesses-ocultos-do-qatar-e-turquia/

A máquina da propaganda patrocinada pelos EUA, Israel, França, Inglaterra e alguns Estados Árabes tenta obter suporte público e democrático ao passar a imagem do presidente da Síria, Bashar al-Assad, como um ditador brutal que massacra criancinhas utilizando armas químicas. O mesmo script que já usaram para justificar a invasão do Iraque e da Líbia.
Por outro lado, temos a Rússia [e, numa parcela menor, os interesses da China nos gasodutos do Médio Oriente] que tem sido retratada como o patrocinador principal do “maligno” regime de Assad. A Rússia possui poder de veto no Conselho de Segurança da ONU  e não deseja perder o seu status quo ao ver um de seus aliados sofrendo uma intervenção militar.
Um artigo publicado no dia 16 de Maio pelo Financial Times confirma, mais uma vez, que a disputa pelo controle dos recursos naturais é uma parte integrante do conjunto de interesses envolvidos por trás da guerra na Síria
O minúsculo e riquíssimo estado do Qatar já gastou mais de $3 biliões de dólares ao longo dos últimos dois anos patrocinando a rebelião na Síria, muito mais que qualquer outro governo. Mas agora está sendo colocado de lado pela Arábia Saudita como a fonte principal de armas e dinheiro para os rebeldes.
Após dúzias de entrevistas que o FT conduziu nos últimos meses com líderes rebeldes, tanto fora, como dentro da Síria, e também com oficiais da região e do ocidente, podemos conhecer o papel desempenhado pelo Qatar no conflito da Síria, o que vem causando muita controvérsia.
Apesar de ser um pequeno estado, o Qatar possui um gigantesco apetite sendo o maior doador da oposição política, chegando a fornecer generosos benefícios para desertores (alguns estimados em até $50 mil dólares por ano para o desertor e sua família) e grandes quantidades de materiais de suporte humanitário. Vários soldados rebeldes da província de Aleppo recebem um salário mensal de$150 dólares como cortesia.
Para o Qatar, dono da terceira maior reserva de gás do mundo, a sua intervenção na Síria é parte de uma agressiva busca por reconhecimento global e é o último capítulo da sua tentativa de estabelecer-se como uma das principais potências da  região, após ter financiado os rebeldes que derrubaram o governo de Muammar Gaddafi, em 2011, na Líbia.
Para continuar essa expansão, após encontrar uma barreira na Arábia Saudita, o Qatar precisa de encontrar uma nova maneira de enviar o seu gás para a Europa. Em 2009, após a descoberta de um novo campo de gás na região que engloba Israel, Líbano, Chipre e Síria, novas possibilidades se abriram para transpor a barreira saudita e assegurar uma nova fonte de renda.
O Qatar, junto com a Turquia, tem interesse em tirar do poder o presidente da Síria, Bashar Al-Assad e instalar um novo regime liderado pela Irmandade Muçulmana. Após a Irmandade entrar no poder, vai ser fácil para a dupla utilizar sua vasta rede de conexões e assumir o controle dos recursos naturais do país, concretizando a parceria com a Turquia e assegurando uma nova saída comercial para a Europa.
Gasodutos já estão prontos na Turquia para receber o gás do Qatar e da Síria. O objectivo é transportar uma gigantesca quantidade de gás da Ásia Central e do Oriente Médio para a Europa.
Para piorar ainda mais a situação, caso essa conexão entre os gasodutos seja efectuada, a Rússia perderá o posto de maior potência económica no transporte de gás para a região, reduzindo a dependência europeia do gás russo.
Entre os meses de Abril de 2012 e Março de 2013, o Qatar foi o maior fornecedor de armas para os mercenários, enviando mais de 70 aviões de carga lotados para centros de distribuição na Turquia.
(...)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

«Para piorar ainda mais a situação, caso essa conexão entre os gasodutos seja efectuada, a Rússia perderá o posto de maior potência económica no transporte de gás para a região,»

Mas claro que os russos não iriam fazer nada contra isso porque sabem que não têm hipóteses contra os EUA.

3 de setembro de 2013 às 22:16:00 WEST  

Enviar um comentário

<< Home